sexta-feira, 11 de março de 2016

Brasileiro corta gastos essenciais para enfrentar a crise

                

De acordo com pesquisa, em um cenário de inflação em alta e desemprego crescente, os brasileiros ajustaram o orçamento para enfrentar a crise, principalmente a partir do segundo semestre do ano passado.

O comprometimento de renda com gastos essenciais —mais difíceis de cortar, como aluguel, alimentação e transporte— caiu de 39,3% em março do ano passado para 34,3% em janeiro deste ano, segundo levantamento feito pelo aplicativo de finanças pessoais GuiaBolso tomando como base as movimentações bancárias de 23 mil pessoas que usam a ferramenta. Março é o início da série histórica da pesquisa de hábitos e consumo.

"São despesas que você não tem muita flexibilidade para cortar, e mesmo assim as pessoas apertaram os cintos e fizeram ajustes no orçamento, afetadas pela inflação em alta, contas residenciais pesando mais e desemprego aumentando", afirma Thiago Alvarez, sócio-diretor do GuiaBolso.

A fatia de gastos com supermercados na despesa total dos brasileiros recuou de 14,2% para 13,1%. Já moradia caiu de 15,8% para 11,6%. "As pessoas substituíram marcas e cortaram produtos supérfluos, mas mesmo assim o mercado continuou com peso grande porque alimentação foi um dos itens que mais sofreu com a alta da inflação no ano passado", avalia Alvarez. Já moradia perdeu participação em parte pela renegociação de valores de aluguéis, que caíram no ano passado.

Por outro lado, transporte passou a pesar mais, devido aos reajustes dos preços de combustíveis e das passagens de ônibus, trem e metrô nas principais metrópoles do país. A participação subiu de 9% para 9,6% no período.

Ao todo, o aplicativo tem dois milhões de usuários. A pesquisa, que considera a distribuição de renda e região da população brasileira medida pela pesquisa Pnad, do IBGE, apontou redução também nos gastos não essenciais, como lazer e compras, que passaram de 23,2% para 21,7% do total.

SITUAÇÃO FINANCEIRA PIORA

O GuiaBolso também mediu a saúde financeira do brasileiro como um todo e identificou uma piora na forma como os usuários estão lidando com seu dinheiro.

A situação financeira é avaliada conforme três variáveis: fluxo de caixa (receita menos despesas), dívidas e investimentos. Segundo os dados compilados, houve queda de 7% do indicador em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2015, de 430 para 398 pontos de um total de 700 possíveis.

Para ter uma situação financeira "saudável", o usuário precisa computar pelo menos 490 pontos, o que equivaleria a economizar pelo menos 15% do que ganha por mês, investir mais de 10% e não recorrer ao cheque especial.

Com 398 pontos, o brasileiro está "doente", segundo o termômetro do GuiaBolso. Apesar da queda na comparação anual, os brasileiros começaram a ajustar o orçamento para enfrentar a crise econômica já em julho do ano passado, quando o índice de saúde financeira atingiu seu menor patamar, 388 pontos.

De julho em diante, o indicador começou a dar sinais de recuperação. "A queda foi maior no primeiro semestre do ano passado. A partir daí, a expectativa de crise se concretizou e as pessoas começaram a apertar os cintos, afetadas pela inflação em alta, contas residenciais pesando mais e desemprego aumentando", afirma Alvarez.

Apesar de desacelerar em fevereiro, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) segue acima de dois dígitos em 12 meses, avançando 10,36% no período.

Já o número de desempregados aumentou 41,5% em um ano e alcançou 9 milhões, também segundo o IBGE.

As perspectivas para este ano são de piora das três variáveis. Para Alvarez, o indicador deve cair um pouco, a saúde financeira do brasileiro vai piorar, mas a queda não será tão acentuada como a que se viu no início do ano passado. "As dívidas continuarão aumentando, as pessoas endividadas vão continuar entrando no cheque especial. Além disso, deve continuar a tendência de resgate das aplicações financeiras para cobrir buracos no orçamento."

O executivo avalia, no entanto, que há "um limite para esse movimento". "Como as pessoas não têm muita reserva financeira, não tem muito de onde tirar", afirma.

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