Associação Agroecológica de Teresópolis, município da Região Serrana do Rio de Janeiro, adota boas práticas e dá exemplo de organização no campo. Produtores da AAT receberão incentivos do Rio Rural para fortalecer a cadeia produtiva de orgânicos. Produtores tem até banco de sementes.
Produzir alimentos mais saudáveis, preservando o meio ambiente e,
ao mesmo tempo, promover a melhoria da qualidade de vida dos
agricultores por meio da organização participativa. Essas ações,
promovidas pelo Programa Rio Rural, da secretaria estadual de
Agricultura, vão ao encontro dos objetivos da Associação Agroecológica
de Teresópolis (AAT), que há cerca de dez anos incentiva e promove a
produção orgânica de alimentos na Serra fluminense.
O
trabalho da associação começou em 2005, quando um grupo de agricultores
orgânicos e apicultores de Teresópolis se uniu para organizar uma feira
agroecológica na cidade. A iniciativa ganhou força e, em 2007, foi
fundada a Associação Agroecológica de Teresópolis, buscando fortalecer a
agroecologia e a economia solidária.
A ATT
conta com atualmente 60 associados. Cerca de 30 deles participam da já
tradicional Feira Orgânica de Teresópolis. Todos são pequenos produtores
rurais, majoritariamente agricultores familiares de Teresópolis,
Guapimirim, Nova Friburgo, Sumidouro e Sapucaia, municípios da Região
Serrana.
A Feira de Orgânicos, que atrai
centenas de consumidores interessados em ter uma alimentação mais
saudável, é realizada às quartas-feiras e sábados, em um terreno da Rua
Tenente Luiz Meirelles, ao lado da Rodoviária do centro de Teresópolis.
No local, além de comercializar seus produtos, os associados participam
de reuniões, mutirões e atividades culturais.
A
qualidade dos orgânicos vendidos na feira, que vem atraindo cada vez
mais consumidores, é elogiada pelos técnicos da Emater-Rio e
pesquisadores da Pesagro-Rio. Muitos associados, inclusive, já entregam
seus produtos em domicílio, não só em Teresópolis, mas também para
clientes de Niterói e do Rio de Janeiro. Além disso, alguns deles também
participam do Circuito Carioca de Feiras Orgânicas, da ABIO.
Os
principais produtos comercializados na feira pela associação são
olerícolas – hortaliças de folhas e de frutos, raízes e tubérculos –,
mas também são vendidos grãos e cereais, frutas tropicais e temperadas,
ovos, mel, melado, palmitos, cogumelo shitake, plantas aromáticas,
produtos processados como doces, geleias, pães, biscoitos, tortas,
sucos; além de café e artesanato.
Dentro desse
conceito de promover boas práticas e a convivência associativa, a AAT
vem atuando junto aos técnicos da Emater-Rio, Pesagro-Rio e da
Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio)
para que os agricultores recebam incentivos para implementação de
projetos do Rio Rural. Segundo Marcos André Dias Jogaib, responsável
pelo núcleo de cadeias produtivas do programa, o Plano Associativo da
ATT foi aprovado em 2014 e o Sebrae está auxiliando os produtores na
elaboração dos PIDs (Planos Individuais de Desenvolvimento).
-
Já foram feitas várias reuniões sobre as necessidades individuais e
coletivas do grupo. Algumas propostas foram modificadas por eles e,
agora, aguardamos a finalização dos PIDs para a liberação dos
subprojetos do Rio Rural via cadeia produtiva - explicou.
Certificação garante qualidade dos produtos
A
qualidade dos produtos comercializados pelos associados da AAT é
garantida pela certificação dos agricultores por meio do Sistema
Participativo de Garantia da Conformidade Orgânica (SPG), que é
coordenado pela Abio do Rio de Janeiro.
- Nós
criamos na AAT comissões de avaliação com a participação de técnicos da
Pesagro, da Abio, além de agricultores e consumidores associados que
queiram participar. Eles visitam e examinam cada propriedade, pelo menos
uma vez por ano, para conceder ou renovar o selo de orgânico - explicou
o produtor e coordenador de administração e finanças da associação,
Jorge Studer.
Toda a produção vegetal, animal e
de processados, como pães, farinhas, compotas e geleias dos integrantes
da AAT precisa ser certificada por meio do SPG. Segundo Jorge Studer,
quando os técnicos encontram problemas nas propriedades em relação à
forma de plantio, uso de sementes, adubação ou até mesmo qualidade da
água, essa comissão conversa com os produtores e busca soluções para a
correção dos problemas.
- Se não resolver os
problemas detectados pela comissão de fiscalização e avaliação, o
produtor fica sem a certificação, fora da associação e também das feiras
- ressalta.
Toda essa organização e
metodologia de trabalho é discutida em reuniões bimensais da Associação.
As reuniões sobre SPG também acontecem com essa frequência e todas as
questões de trabalho do grupo são debatidas democraticamente com a
participação, em média, de 40 produtores associados.
-
Não há dúvida entre os integrantes do grupo de que a certificação pelo
SPG garantiu mais tranquilidade e transparência. Além disso, fortaleceu
nossa organização e nos possibilitou um conhecimento maior sobre
produção orgânica - declarou a associada Ana Litardo, de 72 anos, que
participa da feira desde o início.
A produtora
Clemilda Fagundes Resende e a filha Isabele são integrantes da AAT há
cinco anos. A família tem um sítio na localidade de Santa Rita, em
Teresópolis e, segundo elas, a associação e a feira possibilitaram maior
conhecimento sobre o cultivo de orgânicos.
-
Antes, a gente só produzia orgânicos para o consumo da família mesmo.
Com a nossa entrada na associação e o início dos trabalhos na feira,
conseguimos aprender mais, recebemos orientação da Abio e garantimos a
certificação. Hoje estamos até produzindo doces em potes e pão, com o
selo ‘Sitio 21’. Temos clientes certos e, em alguns casos, eles nem vêm
mais aqui. Fazem as encomendas por telefone e entregamos em domicílio -
contou Isabele Resende.
Associação criou banco de sementes
A
Associação Agroecológica de Teresópolis também vem trabalhando para
diversificar a genética nas lavouras, resgatando cultivos pouco comuns e
introduzindo outros que não faziam parte da agricultura convencional.
Com apoio financeiro de uma instituição privada, foi criado, em 2012, um
banco de sementes orgânicas, sob responsabilidade do produtor e
engenheiro agrônomo Roberto Selig. As primeiras sementes vieram da
Embrapa Agrobiologia, da Pesagro-Rio e de sítios da região.
A
partir de então, a AAT passou a dedicar todo segundo sábado do mês à
troca de sementes e materiais propagativos na própria Feira Orgânica. As
sementes são armazenadas em recipientes bem fechados (latas, garrafas
plásticas ou de vidro), para que não absorvam umidade.
-
Essa troca de sementes é importante e fundamental para a garantia da
qualidade dos orgânicos e também para a diversificação de culturas nos
sítios. Temos certeza de que com a chegada dos projetos do Rio Rural,
poderemos ampliar nossa produção e dar mais qualidade de vida no campo
para os produtores - finalizou o coordenador da AAT, Jorge Studer.
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