Mais
de 57 milhões de brasileiros tem alguma doença crônica não
transmissível, que são preveníveis. Leia esse texto feito pela blogueira
do Estadão, Juliana Carreiro, que é uma verdadeira aula para se seguir.
No
dia 07 de abril comemora-se o Dia Mundial da Saúde. Será que nós
brasileiros temos motivos para festejar esta data? Existem áreas que
estão avançando, é o caso de campanhas de vacinação, como a que
erradicou a poliomielite, ou os tratamentos que combatem alguns tipos de
câncer, quando descobertos no início. Mas vou falar sobre algo que não
está bom, a falta de investimentos na prevenção das doenças crônicas não
transmissíveis. O Brasil é um dos exemplos de países cujos serviços
públicos de saúde são direcionados apenas para as enfermidades e os
esforços da ciência voltados somente para o controle e diagnóstico das
doenças crônicas não transmissíveis, que não param de aumentar.
Os
governos de forma geral não fazem a sua parte, não promovem campanhas
informativas sobre alimentação consciente, não controlam o que é
direcionado para as crianças, não regulamentam, nem fiscalizam as
quantidades de açúcar, sódio, aditivos químicos e gorduras nos
ultraprocessados, tampouco fazem modificações nas merendas escolares,
com raras exceções. Se há negligência da área pública, infelizmente ela
também está presente em boa parte das casas do País. Faltam informações
de qualidade a respeito da relação entre a comida e as doenças, mas
também falta coragem para encarar algumas mudanças de hábitos muito
arraigados e motivação para disponibilizar um pouco mais de tempo para
cuidar da saúde.
Uma alimentação ruim, com
poucas hortaliças, leguminosas e cereais e muitos produtos
ultraprocessados aliada ao sedentarismo resulta em dados preocupantes.
De acordo com a última pesquisa do IBGE, de 2014, cerca de 40% da
população adulta brasileira, o equivalente a mais de 57,4 milhões de
pessoas, sofria de pelo menos uma doença crônica não transmissível. As
DCNTs são responsáveis por mais de 72% das mortes no Brasil. A
hipertensão arterial, o diabetes e o colesterol alto, por exemplo, estão
entre as que apresentam maior prevalência no País. A hipertensão já
atingia mais de 31 milhões de pessoas, acima de 18 anos, o que
corresponde a mais de 20% da população e é um importante fator de risco
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Segundo a Sociedade
Brasileira de Diabetes, a doença atinge hoje 12 milhões de pessoas e,
apesar de ter controle, não tem cura e se não for bem tratada por
resultar em novos males. O mais importante é que, mesmo tendo
influências hereditárias, todas elas são preveníveis.
A
nossa saúde resulta da maneira como formamos e mantemos o nosso
organismo. Este talvez seja o maior problema que temos enfrentado nas
últimas décadas, já que fizemos uma dissociação entre a ela e a nossa
alimentação. Praticamente ignoramos as necessidades essenciais de
nutrientes para mantermos nosso organismo equilibrado e livre das
doenças crônicas, que não deveriam se manifestar se ele funcionasse como
deveria, se tivesse suas necessidades atendidas e se não fosse
sobrecarregado por substâncias nocivas. O comportamento alimentar de boa
parte da população está muito distante da razão biológica. Absorve-se
uma grande quantidade de informações sobre os alimentos, sabe-se
distinguir os principais grupos de alimentos, se tem acesso a inúmeras
opções de refeições, a qualquer hora do dia. Mas parece que toda esta
oferta de informações e produtos significou uma involução na nutrição e
consequentemente na piora da saúde de milhares de pessoas.
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