segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Nada diferente: Alimentos serão afetados em 2016

                            

Serviços e alimentos pesarão no bolso do brasileiro no ano que vem; Para economistas, inflação de dois dígitos de 2015 vai impactar preços no ano que vem.

Depois de sofrer com a disparada das tarifas de energia em 2015, o brasileiro terá que conviver com outros vilões do orçamento doméstico em 2016. Segundo economistas, o ano que vem será marcado pela inflação de serviços, uma velha conhecida das famílias. Mesmo com a recessão, itens como educação, alimentação fora de casa e empregada doméstica devem resistir, influenciados pelo salário mínimo. Vem por aí, ainda, um ano de incertezas em relação aos preços dos alimentos, influenciados pela taxa de câmbio e pelo clima — quase imprevisíveis. Com isso, o alívio esperado para a inflação em 2016 será sustentado pela alta menor dos chamados preços administrados — grupo que inclui, além da conta de luz, transportes e combustíveis. Resultado: a inflação não baterá os dois dígitos, como neste ano, mas continuará salgada. Já há quem espere que ultrapasse os 7%.

Parte da culpa pela resistência da inflação de serviços prevista para 2016 é justamente o comportamento dos preços este ano. Isso ocorre porque o segmento é muito influenciado pelo comportamento das tarifas, como energia, e pelo custo da mão de obra. Por lei, o salário mínimo é reajustado com base em uma fórmula que considera o desempenho da economia e a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que reflete a alta de preços sentida pelas famílias de renda mais baixa. O percentual de aumento do piso nacional no próximo ano deve ficar na faixa dos 11%.

EDUCAÇÃO PRESSIONA ORÇAMENTO

O efeito do reajuste do salário mínimo se espalha pelo setor de serviços. Entra nas contas de mensalidades escolares e gastos com empregados domésticos. As refeições fora de casa, que subiram 9,67% até novembro, também devem ficar mais caras, por causa do repasse do custo de funcionários.

No fim da linha, pesa sobre o orçamento de famílias como a de Tamyres Araújo, de 35 anos. Desempregada há dois meses, assim como seu marido, ela tem dois filhos em idade escolar — Mariah, de 11 anos, e Raphael, de 7. Economizar com os gastos com educação está na lista de prioridades do casal, conta Tamyres, que é estudante de História. As mensalidades somadas das crianças devem sair de R$ 750 para R$ 1.300. O salto é muito grande — de 73% — porque eles haviam conseguido desconto no ano passado.

Diante do ano difícil que têm pela frente — agravado pela falta de emprego — a saída será buscar opções mais baratas. Somado às despesas com escola, a família tem no aluguel, que subiu 30% entre 2014 e 2015, para R$ 850 por mês, a maior fonte de preocupação. A alimentação também ficou mais cara neste ano e, por mês, eles já deixam cerca de R$ 1 mil no supermercado.

— As crianças estão concorrendo a uma vaga no Colégio Universitário da UFF, para nós seria um alívio muito grande. De qualquer forma, já estamos procurando colégios mais baratos, buscando descontos e instituições mais próximas de casa para que eles não precisem usar no ano que vem transporte escolar, como usam hoje. Além disso, o gasto com material escolar é muito grande, todo ano eu comprava livros novos para os dois, mas, em 2016, o Raphael vai aproveitar os livros da irmã, e a Mariah, os da prima mais velha — planeja Tamyres.

A família Araújo faz bem em estudar alternativas. Segundo Luiz Roberto Cunha, professor de Economia da PUC-Rio, a inflação do grupo educação deve ter alta de 12% em 2016, mais que os 9,5% esperados para este ano. O segmento tem peso de 4% sobre o IPCA, índice oficial, que deve fechar o ano em 10,7%, segundo a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central, com instituições financeiras.

— Na média, haverá uma pequena desaceleração na alta dos serviços no ano que vem, de 8,3% para 7,7%. É muito pequena para o grau de recessão que estamos esperando para 2016 — diz Cunha.

Essa espécie de “herança” deixada pela inflação do ano anterior ocorre por causa de uma característica marcante da economia brasileira: a indexação. Ou seja, a variação de preços do período é usada como referência para novos reajustes. Além do salário mínimo, esse fenômeno é observado em outras despesas importantes. O IPTU no Rio é reajustado com base no acumulado do ano do IPCA-15, a prévia da inflação oficial. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) chegou a ser chamado de “inflação do aluguel”, por ser usado no cálculo do reajuste de contratos de locação. Nos dois exemplos, os indicadores estão rodando próximos a 11%.

Outro motivo de preocupação de analistas é o câmbio. Em dezembro, o dólar alto já afetou a inflação de alimentos, pressionando o IPCA-15, que ficou em 1,18% no mês e fechou o ano em 10,7%.

— Com a instabilidade política, existe o risco de alta na nossa projeção para o próximo ano. Nossa previsão de final de período (dezembro de 2016) é de R$ 4,10 — afirma Rodolfo Margato, economista do Santander.

Luiz Roberto Cunha lembra que o comportamento do clima também é uma incógnita. O efeito do El Niño — fenômeno que provoca excesso de chuvas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil — chegou a ser destaque no relatório trimestral de inflação, divulgado pelo Banco Central na última quarta-feira. Mas o fenômeno climático pode colaborar para reduzir os custos da energia.

— De certa forma, a questão climática muito incerta desse ano deve continuar no ano que vem. Tende a afetar muito os alimentos in natura. O grupo deve avançar próximo de 9% em 2016, depois de bater 11% em 2015 — estima Cunha.

A persistência da inflação alta é ainda mais grave quando associada à crise do mercado de trabalho. Segundo levantamento do Salariômetro, elaborado pelo economista Hélio Zylberstajn, da USP, das 785 negociações salariais de novembro, só 314 tiveram aumento real, acima da inflação. Desde o início do ano, 222 acordos foram fechados com perdas salariais.

GASOLINA PODE SUBIR COM CIDE

A boa notícia é que os chamados preços administrados, como energia e combustíveis, devem subir menos em 2016. Pelas contas de Margato, o grupo deve subir 7,5% em 2016, após bater os 17% neste ano.

Em relatório divulgado a clientes, o Itaú Unibanco também prevê pressão menor dos administrados, inclusive dos combustíveis, mas considera que ainda pode haver surpresas, no caso de aumento de imposto. “(Para 2016), reduzimos nossa projeção para reajuste da gasolina na refinaria, de 10% para 5%, com impacto na bomba de 4%, ante previsão anterior de 8%. Por enquanto, não consideramos um aumento da Cide (imposto sobre combustíveis), mas esse tributo continua um fator de risco para a inflação”.

Raphael Ornellas, economista do Brasil Plural, aposta em uma alta do imposto sobre combustíveis, diante do quadro fiscal desequilibrado:

— O governo deve acabar optando por aumento de receitas que seriam inflacionárias, como a CPMF. No nosso cálculo, cada R$ 0,10 a mais de Cide afetaria o IPCA em 0,15 ponto percentual.

A expectativa do mercado financeiro é que a inflação recue para 6,87% no ano que vem. Mas já há quem espere alta acima de 7%. Assim, o IPCA deve romper, pelo segundo ano consecutivo, o teto da meta do governo, que é de 6,5%. A economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, espera que a inflação fique próximo de 7% em 2016. E prevê que o Banco Central subirá a taxa básica de juros, a Selic, que chegaria a 15,5% ao ano em abril e cairia para 14,75% no fim do ano:

— É o custo de ter brincado com inflação nesse país. Baixar é muito difícil e muito caro. Colaborou Cássia Almeida

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