Prefeitos desesperados com a seca que atinge o estado do Rio de Janeiro, aponta reportagem do Globo.
O nível de água dos quatro principais reservatórios que abastecem o Rio de Janeiro atingiu o menor patamar dos últimos 36 anos. Os reservatórios tiveram percentual de 2,5% do volume de água e, devido às previsões climáticas desanimadoras que apontam falta de chuva para os próximos dias, prefeitos de alguns municípios estão preocupados com o abastecimento de água em várias regiões. Para o secretário estadual de Agricultura e Pecuária, Christino Áureo, o problema atinge regiões consideradas de alta produção no estado. Segundo ele, a estiagem, de acordo com um levantamento consolidado na quinta-feira pelo governo, já causou um prejuízo de R$ 100 milhões nos últimos três meses.
— Estamos com escassez de chuvas nas regiões de maior produção do estado, principalmente no eixo que vai de Nova Friburgo, na Região Serrana, em direção ao Noroeste do estado, passando por Itaperuna, Itaocara e até quase a divisa do Espírito Santo. Campos e São Fidélis também sofrem com a seca.
Prefeitos, secretários municipais, representantes do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), do Comitê do Médio Paraíba do Sul e da Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul (Agevap) temem que a crise hídrica que pode afetar de forma mais drástica o estado do Rio. De acordo com a vice-presidente do Ceivap, Vera Lúcia Teixeira, a situação é crítica. Por isso é preciso falar claramente sobre a possibilidade da falta de água.
— Vamos mostrar aos prefeitos de diversos municípios o nível que se encontra o Rio Paraíba — disse.
Segundo o prefeito de Pinheiral, José Arimathéa, o momento é de preocupação.
— Estamos passando por um momento mais crítico do que imaginávamos. Está claro que este não é um problema que afeta apenas uma determinada região ou município, e sim todo o Rio. É preciso buscar uma solução para o quadro não se agravar — afirmou, considerando que a crise hídrica também é resultado de desmatamento e crescimento urbano desordenado.
O prefeito de Piraí, Luiz Antônio Neves, já tinha afirmado anteriormente que os municípios estão passando por uma crise financeira muito grande, e não há dinheiro para investir em ajuda técnica, por isso os comitês ambientais do estado do Rio são necessários:
— A falta d'água já é realidade em Piraí. Precisamos de ajuda. Não temos condições de contratar um corpo técnico em razão da crise financeira, por isso precisamos da ajuda dessas entidades para nos apoiar.
O discurso foi reforçado pela prefeita de Porto Real, Cida Maria Aparecida, e pelo vice-prefeito de Volta Redonda, Carlos Roberto Paiva.
— É uma preocupação de todos. Sinto que nós acordamos muito tarde. As pessoas não estão acreditando que a situação está crítica. Então é preciso união para solucionar esse problema — disse Cida.
— É preciso unir as comissões, trabalharmos todos juntos, todas as prefeituras, para que possamos solucionar esse problema — afirmou Paiva.
O presidente da Comissão Ambiental Sul, Délio Guerra, falou que não é de hoje que está na luta em prol do Rio Paraíba do Sul. Ele criticou o acordo feito entre os governadores de São Paulo, Rio e Minas Gerais sobre a transposição do Paraíba:
— Como a situação do Rio Paraíba do Sul é crítica no trecho que limita Rio de Janeiro e Minas Gerais, esse acordo feito pelo governo carioca é sinalizador de um caos ainda maior, especialmente, se persistirem anos de menor pluviosidade. Além disso, conforme ambientalistas, como não se vê nenhum esforço para diminuir as ameaças causadas por despejos de poluentes urbano industriais, a população fluminense pode ir se preparando, pois o que está ruim poderá piorar ainda mais.
Produtores sofrem
Os produtores rurais de Santa Rita de Cássia, distrito de Barra Mansa, estão enfrentando a pior fase de colheita em dez anos. A situação é reflexo do intenso calor que tem feito, aliado a falta de chuvas e da escassez de água que secaram os reservatórios nas propriedades rurais. Segundo a Associação de Produtores Rurais de Santa Rita, grande parte da produção foi perdida e funcionários estão tendo que ser dispensados. A entidade é a principal distribuidora de hortifrutigranjeiros do Sul Fluminense.
Segundo a secretária da Associação, Valdiana Mariana de Oliveira, de 23 anos, muitos produtores já perderam 90% das lavouras e alguns chegaram a dar férias coletivas e até dispensar funcionários. A produção local, devido ao problema de estiagem, caiu consideravelmente no ano passado em Santa Rita de Cássia, que possui pouco mais de 100 produtores cadastrados que garantem o sustento e renda de mais de mil famílias.
— Tem produtor que não está mais nem plantando, outros perderam tudo. Os que ainda estão cultivando tiveram diminuição de plantio considerável. Antes os produtores plantavam toda a semana, agora eles passam uma semana inteira sem plantar nada. Não tem água, as hortaliças estão secando, as que vingam não crescem direito, não mantém a mesma qualidade. Muitos trabalhadores estão de férias coletivas porque não tem trabalho, não tem o que fazer. Outros estão sendo dispensados. Tem produtores até pensando em parar de plantar — revelou Valdiana.
Apesar das perdas e dificuldades, Valdiana contou que as hortaliças estão sendo vendidas aos clientes pelo mesmo valor de épocas anteriores:
— O preço das hortaliças continua o mesmo, porém a quantidade caiu muito, o que gera um grande prejuízo ao produtor. Temos o compromisso da entrega dos produtos, mas sem quantidade suficiente também perdemos. Tem muita gente que já não consegue cumprir com os compromissos assumidos com os compradores. Como a qualidade da maioria dos produtos não é a mesma também, o número de vendas cai e os produtos que sobram são devolvidos.
Ainda de acordo com Valdiana, os agricultores já solicitaram caminhões-pipa para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto.
— Estamos com muito medo dessa falta de chuva na região, e a tendência é só piorar. Tem produtor que não molha a horta há dias. Há mais de 10 anos que não é registrada uma seca deste porte. Um dos maiores lagos da região secou em 2014, e os peixes morreram. O córrego que passava dentro de uma propriedade também secou. A situação está muito crítica — desabafou.
O produtor Luiz Moisés Pires, de 51 anos, contou que a propriedade em que trabalha é responsável pelo sustento de quatro famílias. Segundo ele, a maior parte da produção já foi perdida.
— Não temos nada na horta. Hoje conseguimos colher 20 molhos de salsinha e 12 de cebolinha. O resto foi tudo perdido. Conseguimos colher 10 caixas de quiabo, o que atualmente, em épocas normais, colheríamos 30 caixas. O calor está forte e não tem água, toda a produção está morrendo. Não tem nem como estimar o prejuízo. Estamos indo para casa porque não tem o que fazer — lamentou.
Ainda segundo Luiz Moisés, em épocas normais eram colhidas 150 caixas de alface, 1,5 mil molhos de salsinha e 500 pés de brócolis, mas agora, na última colheita, não foi possível colher nenhuma destas hortaliças.
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