A moda dos alimentos integrais cresce no Brasil, mas o consumidor tem pouca informação sobre a composição dos produtos. A Anvisa quer mudar isso
A atriz Karina Bacchi, de 41 anos, que dá dicas de alimentação saudável em seu blog, aderiu aos alimentos integrais a partir dos 15 anos de idade. Para ela, são nítidas as vantagens: mais ricos em fibras, dão sensação de saciedade, além de oferecerem maior riqueza nutricional. “Meu paladar já está bem acostumado e sempre que tenho essa alternativa dou preferência para o integral”, diz.
Segundo ela, muita gente ainda estranha a textura ou o sabor dos integrais. Para evitar isso, introduziu esses alimentos na dieta do filho, Enrico, de quase 6 meses. O que incomoda Karina é a falta de segurança na hora de comprar. Ela diz que vive atenta aos percentuais de ingredientes integrais nos rótulos dos alimentos, mas não consegue saber do que precisa. “Sinto falta de uma informação mais clara nas embalagens”, afirma. “Há empresas que preferem deixar os dados camuflados.”
Não é só ela que está mais exigente. Os alimentos integrais – como massas, pães e biscoitos – ganham cada vez mais espaço na mesa dos brasileiros: esse mercado cresce cerca de 20% ao ano no país. Com mais nutrientes, minerais e fibras, são recomendados por médicos por reduzirem o risco de doenças do coração, acidente vascular cerebral, infarto, diabetes e obesidade. O problema é que o consumidor tem dificuldade para saber o que é integral mesmo.
Não existe no Brasil regulamentação nem fiscalização específicas sobre a composição desses alimentos. Produtos feitos com 1% ou 100% de farinha integral podem trazer a mesma classificação “integral” na embalagem. “Essa falta de regulamentação engana quem compra”, diz Ana Paula Bortoletto, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
“O consumidor acredita que está ingerindo uma quantidade maior de fibras, mas pode ter comprado produtos com só 1% de farinha integral.”
Análise do problema
A falta de padrões mínimos e a constatação de que em muitos casos o “integral” só constava dos rótulos fizeram com que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começasse a analisar o problema. A ideia é estabelecer padrões de matéria-prima – farinha ou cereal – integral na composição dessa categoria de alimentos. Uma pesquisa do Idec, por exemplo, mostrou que apenas três de 14 marcas de biscoitos considerados integrais vendidas no Brasil tinham de fato farinha ou cereal integrais como principal ingrediente.
A Anvisa vem debatendo a questão há mais de um ano. Já fez duas reuniões com órgãos que representam os fabricantes de massas, biscoitos e pães, produtores de trigo e os ministérios da Saúde e da Agricultura, além de institutos de defesa do consumidor.
O primeiro passo do trabalho foi levantar como outros países estabeleceram padrões para classificar massas integrais industrializadas. O problema, contudo, é que os parâmetros são muito diversos. No Canadá, um pão integral deve ser preparado com no mínimo 50% de farinha de trigo integral. Na Holanda, o percentual é o mesmo e vale para massas, além de pães. Na Alemanha, a exigência é maior. A quantidade mínima de farinha integral num pão com essa classificação deve ser de 90% e de 100% para macarrão.
Já nos Estados Unidos, uma massa integral precisa ter 8 gramas de grãos integrais por porção. Austrália, Reino Unido e Canadá também adotam o critério americano. Por isso, dá trabalho à agência sanitária estabelecer parâmetros mínimos e garantir aos consumidores o acesso à informação. Além disso, as novas regras devem estimular as empresas do setor a investir em alimentos à base de cereais integrais com maior qualidade. Os técnicos da Anvisa também já visitaram moinhos de trigo e indústrias para saber um pouco mais do processo de produção dos integrais. A próxima etapa desse processo será abrir uma consulta pública sobre o tema.
Mais atento
A exigência do consumidor é alta. Em uma pesquisa do Idec, com quase 1.000 internautas, 85,5% dos entrevistados afirmaram que um produto só deveria utilizar o termo “integral” no rótulo se possuísse, no mínimo, 50% de cereais integrais em sua composição. Já 36,9% acreditam que, para ser considerado integral, um produto deve ter 100% de cereais integrais em sua composição.
Na Europa, os fabricantes usam uma espécie de trigo chamada durum, variedade mais dura. Eles desenvolveram tecnologia para obter farinha integral como resultado da moagem do grão do trigo inteiro. Ela não é tão leve como a farinha branca, mas, como não passa pelo processo de refinamento, preserva nutrientes como fibras e vitaminas. Com essa tecnologia, a massa do macarrão fica menos pesada e sem o gosto característico dos alimentos integrais.
No Brasil, a variedade de trigo utilizada é a aestivum, mais leve. E o paladar do brasileiro tem preferência por uma massa mais mole. Isso gera um segundo obstáculo. A adição de mais de 40% de farinha integral reduz a qualidade do produto, que fica mais duro e pegajoso.
“Os fabricantes não estão economizando nos grãos integrais”, diz Cláudio Zanão, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados.
Muitas vezes o produto integral é mais caro. O pacote de macarrão integral varia de R$ 10 a R$ 12. Já a massa com farinha refinada custa entre R$ 3 e R$ 4. Enquanto a regulação não sai do forno, a recomendação ao consumidor que está fazendo a opção pela massa integral é ler o rótulo e decifrar a tabela nutricional. No caso de massas e biscoitos, recomendam os nutricionistas, o ideal é que a farinha integral seja o primeiro item da lista. Como ela é feita em ordem de proporção, é o que está em maior quantidade no produto. Por enquanto, é o que dá para saber.
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