Por Jorge Lopes
Os números não mentem jamais, mas são manipulados. Bastaram reportagens feitas sem qualquer compromisso com a verdade, principalmente as veiculadas pelo Jornal Nacional, Jornal Hoje - ambos da TV Globo (sem qualquer crítica política, por que são os mais importantes do país), para os aproveitadores agirem. Não sei se repórteres, editores de economia, são incapazes, mas o certo é que está levando à especulação em relação ao preço do feijão preto. Em muitos casos, o quilo está chegando a mais de R$ 10, e qual o motivo? Nenhum, a não ser o fato da interferência dos manipuladores que sempre originam na especulação pura de preços.
Vamos começar a farsa com institutos responsáveis, como o IBGE (Instituto de Geografia e Estatística), órgão dos mais importantes e um tal instituto de pesquisa GFK. De acordo com o primeiro, na semana passada, o quilo do feijão havia subido 28; e o segundo, se baseava, diz, em pesquisas feitas em 21 regiões, capitais e interior. Na mesma matéria comparavam o preço do feijão, praticado no Tocantins (R$ 15, o quilo) e no Recife (Pernambuco), mais de R$ 10.
Aí, falavam sobre a quebra de safra de arroz no Rio Grande do Sul, devido a fatores climáticos, que teria sido da ordem de 16%. O estado gaúcho colheu 7,4 milhões de toneladas. Mas vou deixar para falar do arroz mais a frente.
Atravessadores, especuladores?
Como vocês puderam constatar, deram exemplos (Palmas e Recife) distantes, cujos preços dos produtos, se não são da região, precisam ser levados de outras partes do país numa infraestrutura logística das mais castigadas, como conhecemos. O resultado, claro, vai impactar no preço ao consumidor. Isso lá, mas e aqui? Qual a desculpa que temos?
O feijão some da prateleira do mercadinho de bairro por que o quilo está mais de R$ 10 ? Que verdade há nisso, quando temos na capital carioca uma Bolsa de Gêneros Alimentícios (BGA), onde indústria e supermercados negociam preços, e na Baixada Fluminense (Nova Iguaçu) a Granfino, que também vende feijão, ou a Camil, em Três Rios? Só alguns exemplos.
Preocupado, eu e o CeasaCompras.com fomos direto pesquisar os preços divulgados pela Direção Ténica da Ceasa Grande Rio, que controla os mercados de Irajá, na Zona Norte da cidade, e do Colubandê, em São Gonçalo (Metropolitana). Queríamos verificar o preço da saca de feijão e o seu correspondente em quilos. Lá, o fardo de 30 kg do feijão preto tipo 1 estava sendo vendido, nesta terça-feira, a R$ 119,90. Ou seja, R$ 3,99 o quilo de cada pacote que vem no fardo, que pode ser adquirido pelo consumidor comum.
Bingo
Não satisfeito fui mais além, tendo como fonte órgãos diretamente ligados à produção de feijão e sua comercialização nacional, como o IBRFE e a Bosinha de Cereais, que fizeram uma média nacional da saca de 60 kg (isso mesmo que você leu) no atacado. É a seguinte:
Somente em Paranaguá (PR), para exportação, o feijão estava sendo vendido a R$ 187;
No mercado interno, São Paulo, R$ 178,39;
Paraná, R$ 105,33;
Minas Gerais, R$ 122,79;
Goiás, R$ 127,04;
Mato Grosso, R$ 109,90.
Se analisarmos São Paulo, que tem na Ceagesp uma prática de alta constante de produtos, a saca de 60 kg do feijão preto extra, como constatamos, sofreu uma alta de apenas 3,45%, custando R$ 300; o feijão preto especial, alta de 3,85%, saindo por R$ 270. Em relação aos três tipos do feijão carioca, consumido na totalidade do país, os preços da saca variavam de R$ 430 a R$ 510, o que é outra história a ser contada.
No Rio de Janeiro, a história do preço do feijão preto não pode ser igual a do que estamos vendo com os chamados feijão diferenciados. Tem que ser diferente.
Arroz e cia.
Eu disse que voltaria ao arroz branco. A saca de 50 kg do arroz tipo 1, em casca, ainda não beneficiado, está sendo vendida a R$ 44,52, no Rio Grande do Sul, apesar dos fatores climáticos na região Sul do país.
Vendo isso, aproveitei para checar os preços do arroz que estaria sendo vendido na Ceasa Grande Rio, onde encontrei o fardo de 30 kg do produto sendo vendido a R$ 77,70; o do fardo de 10 kg do açúcar, a R$ 26 e do sal, com o mesmo peso, a R$ 28,30.
Outra coisa absurda que me chamou a atenção, foi o preço dos ovos na Ceagesp sendo vendidos a R$ 10,38, a dúzia para o consumidor. A farsa deste aumento de preço cai quando constatamos os preços praticados no Sudeste (onde está relacionado São Paulo), pela caixa de 30 dúzias dos ovos brancos: R$ 100 (ES), R$ 104 (SP), R$ 105 (MG) e R$ 110 (RJ).
Aproveite para ler matéria que estamos publicando no Blog do CeasaCompras sobre o aumento da produção de feijão.