Você conhece arroz vermelho, baunilha do cerrado e o trigo crioulo? Que tal termos alimentos bons, limpos e justos? São perguntas que estão sendo respondidas por projeto do governo federal. O CeasaCompras está caminhando com o movimento Slow Food.
É comum encontrar diferentes pacotes de arroz branco nos supermercados, mas você sabia que existe arroz vermelho? O produto, assim como a baunilha do cerrado e o milho crioulo, não é tão comum em gôndolas ou mercearias. Mas estes são apenas alguns dos variados produtos brasileiros que estão na lista de alimentos que correm o risco de serem extintos.
A catalogação deles está inserida em um projeto chamado "Arca do Gosto", que, por sua vez, faz parte do plano “Alimentos bons, limpos e justos”, uma parceria da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead) com o movimento Slow Food, a Universidade Federal de Santa Catarina e uma rede de universidades.
Mas o que seria um alimento bom, limpo e justo?
De acordo com o movimento Slow Food, muitos modos de produção são nocivos ao meio ambiente e aos seus habitantes. O alimento ser bom, limpo e justo está ligado ao gosto, ao aroma, ao respeito com o meio ambiente e à valorização do trabalho em volta daquele alimento.
Para a consultora para o Slow Food da Sead, Nadiella Monteiro, a ideia é fugir dos padrões de consumir apenas alimentos já conhecidos como, por exemplo o arroz branco, e abrir espaço também para sabores únicos, como arroz vermelho ou queijo Minas artesanal. Além disso, o projeto ainda busca fortalecer a agricultura familiar através da filosofia do Slow Food. “A ideia do projeto é conseguir identificar, na nossa agricultura familiar, quem produz de forma boa, limpa e justa. E conseguir qualificar, reconhecer, identificar, ajudar de forma que ele seja valorizado”, diz.
O projeto tem passos distintos a serem seguidos. O primeiro é a Arca do Gosto, que é um catálogo mundial para a divulgação de alimentos que com o tempo estão sendo esquecidos. “A Arca do Gosto é uma espécie de Arca de Noé. A ideia de que vai vir uma inundação e todos vão se perder e a arca vai proteger. O catálogo tem a função de chamar atenção, mostrar que há alimentos com características distintas que estão sumindo”, explica Nadiella Monteiro.
Qualquer pessoa pode indicar um alimento para a Arca. Basta acessar o site do Slow Food e preencher este formulário que está neste link. Depois o alimento vai passar pela análise de uma série de critérios, como a tradicionalidade e a dificuldade de ser encontrado no mercado. Podem ser indicados não só matérias-primas, mas também espécie e variedades vegetais, raças animais domesticadas, além de alimentos com técnicas tradicionais de produção.
Depois de catalogados, é preciso saber onde eles estão. Para isso, o segundo passo do projeto é a formação das Comunidades do Alimento. As comunidades são o agrupamento de todos os atores da cadeia produtiva. É identificado desde o agricultor que produz até o consumidor.
Em seguida, formam-se as chamadas Fortalezas, nas quais a equipe busca fortalecer os produtos que estão prestes a serem extintos. Ela organiza os produtores e procura entender o mercado para incluí-los.
A Arca está cada vez mais cheia, já são mais de 100 alimentos brasileiros no embarque. As comunidades estão sendo identificadas e já há um trabalho de aproximação sendo feito nas Fortalezas. Além desses passos, as instituições também oferecem capacitação em ecogastronomia a jovens rurais e se dedicam a um trabalho de divulgação, para que as informações cheguem aos consumidores.
Segundo Nadiella Monteiro, a meta é continuar colocando os produtos na Arca e identificando as comunidades. O objetivo é chegar em 27 Fortalezas. “Também queremos levar essas Fortalezas para o mercado, para as feiras, para os produtos serem vistos. Afinal, o consumidor é quem define se o alimento vai ser extinto ou não. Se ele não sabe que existe, vai sempre comprar a mesma coisa”, ressalta.
A consultora ainda explica que o projeto cuida não só dos alimentos, mas também do agricultor. “São alimentos que têm valor para ele, mas não são valorizados financeiramente. Nosso trabalho é fazer essa transformação e dizer que tem valor, que tem gente que quer comprar e pagar bem. Comida não é só commodities, comida tem história, tem afetividade”. Nadiella afirma que não se deve deixar esses produtos sumirem das prateleiras. É preciso incentivar os agricultores a continuar produzindo, mas também colocá-los no mercado, pois o retorno financeiro é necessário.
Slow Food
Um dos grandes atores do projeto é o movimento internacional Slow Food, cujo princípio básico é o prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais, cultivados de uma forma que não agrida o meio ambiente e as pessoas que os produzem. O movimento se opõe à padronização dos alimentos no mundo e visa defender a biodiversidade na cadeia de distribuição alimentar, educar o gosto e aproximar os produtores dos consumidores.
O presidente da Associação Slow Food no Brasil, Georges Schnyder, afirma que é de extrema importância essa parceria com o Governo Federal. Para ele, a Sead e o movimento querem a mesma coisa: fortalecer a agricultura familiar e também os alimentos bons, limpos e justos – trazê-los para a mesa do brasileiro e do mundo.
Schnyder ainda destaca que a agricultura familiar é fundamental para a preservação da biodiversidade brasileira. “Hoje o Brasil talvez seja uma das regiões do mundo que o Slow Food tenha mais atuação e tem maior trabalho a ser feito. Há uma contraposição muito forte entre a biodiversidade e a agricultura industrial praticada no país”. Para ele, a família protege não só a própria produção, mas também o seu entorno.