Localidades da Zona Oeste e de Jacarepaguá, como Recreio, Freguesia e Vargem Grande têm feiras destinadas a alimentos livres de agrotóxicos, que estão crescendo junto aos consumidores.
Nas gôndolas dos mercado, eles podem passar despercebidos, em meio a tantas opções fit, diet, light, free, low carb e quetais. Mas, aos poucos, os alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e outros aditivos, têm conquistado a atenção de quem está antenado com pautas comuns como saúde, bem-estar, economia e agroecologia. O que é ótimo no Brasil, país que, segundo o Atlas do Agronegócio, da Fundação Heinrich Böll, é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
Enquanto um projeto de lei alterando a legislação dos agrotóxicos — para pior, segundo muitos especialistas — tramita na Câmara dos Deputados, cresce o consumo de alimentos cultivados apenas com fertilizantes naturais. Na Barra e nos bairros vizinhos, a procura por produtos desse tipo só aumenta, fomentando um mercado que inclui grande oferta de entregas em domicílio e um circuito de feiras livres em shoppings.
Bicampeão mundial de ondas grandes, o surfista Carlos Burle é adepto de um serviço de assinatura de alimentos orgânicos. Ele costuma compartilhar sua rotina gastronômica em redes sociais como o Instagram, e chama a atenção de amigos por receber itens livres de agrotóxicos em casa.
— Uma galera do meu time ficou interessada quando viu que eu assinava esse serviço. É prático, e há a confiança de que se estar comendo algo saudável e sem química — afirma o atleta, assinante do Rio Orgânico Delivery.
Ele também conta que costuma pedalar junto com a mulher, Ligia Kuntz Moura, até a feira orgânica da Praça do Ó, às terças-feiras.
— Mesmo quando se viaja muito, não pode faltar comida de qualidade. É importante estimular esse movimento, onde quer que você vá. A alimentação orgânica ainda tem outro benefício: valoriza a economia local — diz o atleta, referindo-se ao fato de os orgânicos quase sempre serem cultivados em locais próximos à casa do consumidor.
A nutricionista Carla Cotta, especialista em nutrição funcional, é cliente do Sítio do Moinho e responsável técnica pelo restaurante da loja da empresa na Barra. Em seu trabalho, ela procura estimular entre seus pacientes o aproveitamento integral dos alimentos. Mas só se eles forem orgânicos.
— É complicado dizer para alguém consumir todas as partes do alimento quando ele está contaminado. Principalmente porque os compostos químicos ficam concentrados nas cascas e nos talos das hortaliças, verduras e frutas — diz Carla. — Em média, consumimos cerca de cinco litros de agrotóxicos por ano. Eles estão nas frutas, na carne e nos industrializados. Isso sem falar nos metais pesados.
Entre os que ainda não aderiram aos orgânicos, um dos principais entraves são os preços. Angela Thompson, do Sítio do Moinho — dona de uma área de sete hectares em Itaipava, na Região Serrana, onde há uma horta orgânica e estufas — , justifica-os.
— Numa roça tradicional, o produtor usa adubo químico, agrotóxico, e não precise de tanta mão de obra para plantar. No nosso caso, todo o processo é artesanal e não utilizamos nenhum composto químico, o que faz com que tenhamos mais gente trabalhando na terra — justifica ela, que em seu terreno, em Itaipava, tem dez funcionários na horta, além de agrônomos responsáveis pelo controle dos alimentos.
Ela atesta que o consumo na região está crescendo: em agosto, por exemplo, realizou 94 entregas em domicílio na Barra, quatro no Recreio e outras 27 em Jacarepaguá. É a mesma percepção da economista Aline Santoli, fundadora do Orgânicos in Box, que oferecia serviço de delivery na Barra apenas às quintas, agora atende ao bairro também às terças e aos sábados, além de ter clientes no Recreio, em Jacarepaguá e em Vargem Grande.
A saída para buscar valores mais em conta, ensina Carla Cotta, é consumir os alimentos de acordo com a sazonalidade. Outra maneira é adquirir orgânicos diretamente de produtores locais, como os do sítio Arte da Terra, em Vargem Grande. Os donos, Eliane Velozo, de 57 anos, e Domenico Trotta, de 82, já fazem entregas no Recreio e no condomínio Alfa Plaza, na Barra, onde moram. Além, claro, de terem clientes em Vargem Grande, onde os alimentos também podem ser comprados no próprio sítio.
— Comecei a desenvolver orgânicos em 2000, quando esses produtos estavam começando a se sofisticar — diz Eliane. — Só comia quem podia. Nosso objetivo é justamente dar essa oportunidade não só ao rico, mas também àquele que não tem R$ 10 para gastar num quilo de jiló.
Na horta do Sítio Arte da Terra, Eliane Velozo e Domenico Trotta contam com a ajuda de dois jovens, a socióloga Livia Santiago,e Tomé Lima, estudante de Agronomia. Eles começaram a introduzir uma nova forma de plantar no sítio: o sistema agroflorestal, que consiste em reunir culturas de importância agronômica numa mesma área (diferentemente da agricultura tradicional, em que os cultivos são separados).
— É um sistema inovador que sacrifica menos o nosso solo — ressalta Eliane, destacando o fato de apenas os quatro trabalharem ativamente na horta. — Eu e Eliane não somos mais como há 20 anos, precisamos de ajuda na plantação. Mas manter essa horta é nossa missão. Ela precisa estar viva para nos mantermos vivos — diz Trotta.
Todos os dias, o casal acorda às 4h30m e segue rumo a Vargem Grande para cuidar das plantas e e das galinhas que cria no sítio. No mesmo bairro, aos domingos, é realizada a Feira da Roça, na Praça José Baltar, onde se vendem apenas orgânicos.
A região tem outras feiras de orgânicos já tradicionais, como a da Praça do Ó. Os shoppings centers, que ocasionalmente já costumavam promover eventos para venda e degustação de orgânicos, agora começam também a criar um circuito de feiras. O Città e o Recreio Shopping farão parte, ao longo de um ano, do Circuito Estações Rio Todos & Juntos.
Além de realizar feiras semanais — com produtos pouco comuns, como vinhos e comida congelada orgânicos — , os estabelecimentos terão pequenas hortas, das quais os próprios agricultores cuidarão. Eles serão responsáveis por todo o processo de plantio, passando pela compostagem e pelo cultivo. Para completar a programação, serão oferecidas palestras e oficinas. Os eventos vão até julho do ano que vem, e os criadores se gabam de que toda a energia necessária para sua realização é fornecida por geradores de energia solar.
SERVIÇO
Organomix
Pedidos pelo site organomix.com.br, ou na loja física, no Casahopping, no subsolo do bloco P.
Orgânicos in Box
Pedidos pelo organicosinbox.com.br.
Rio Orgânico Delivery
Pedidos pelo WhatsApp. Tel.: 9676-73999 .
Clube Orgânico
Pedidos pelo site clubeorganico.com.
Sítio do Moinho
Pedidos pelo telefone (24) 2291-9190, pelo endereço de e-mail smoinho@sitiodomoinho.com e também na loja física, na Av. José Silva de Azevedo Neto 200, bloco 9, loja 111.
Horganópolis
Pedidos pelo site horganopolis.com.
Hortamix
Pedidos pelo site hortamix.com.br.
Manacá Orgânicos
Pedidos pela loja on-line manacaorganicos.odoo.com.
Sítio Arte da Terra
Pedidos pela página do Facebook do sítio ou pelo número 96470-9964.
Feira Orgânica Barra I
Na Praça do Ó, às terças- feiras, das 7h às 13h.
Feira Orgânica Barra II
Na Praça General Santander, no Parque das Rosas, às quintas-feiras, das 7h às 13h.
Feira Orgânica Recreio
Na Praça Restier Gonçalves, aos sábados, das 7h às 13h.
Feira Orgânica Freguesia
Na Praça Professora Camisão, aos sábados, das 8h às 13h.
Feira da Roça
Na Praça José Baltar, em Vargem Grande, aos domingos, das 8h às 13h.
Quintal Américas
A feira é realizada mensalmente no Américas Shopping (Av. das Américas 15.500). A próxima será em outubro, em data a definir.
Fonte O Globo