sábado, 29 de novembro de 2014

ESPECIAL GASTRONOMIA Comer bem virou moda e todo mundo quer ser chef


A gastronomia se tornou uma das profissões mais procuradas do país – e conquistar um lugar à frente de uma cozinha profissional não é fácil, aponta reportagem da revista Época dessa semana, que transcrevemos aqui devido ao seu grau de importância, dentro de uma série que começamos com o desperdício de comida nas Ceasas e a análise de que o brasileiro está comendo menos e gastando mais.

Gabriela Spinardi comemora neste mês um ano de seu primeiro trabalho como profissional de cozinha. Depois de dois anos de faculdade, ela e seu colega de classe Sérgio Campos abriram um bufê para eventos, o Balaio Gastronomia. Gabriela tem 42 anos. Sérgio, 38. Ambos resolveram, há pouco mais de três anos, mudar de carreira. Escolheram gastronomia pelo mesmo motivo: a paixão pelo mundo da comida. Formada em economia, Gabriela era gerente de controladoria de uma multinacional americana. Ganhava bônus, tinha carro da empresa e salário alto. Sonhava com pratos e panelas. Sérgio é professor de educação física. Ainda atende alguns alunos pela manhã, cedinho, antes de seguir para o Balaio. “Temos bastante trabalho, mas ainda não vivemos somente da gastronomia. Não é uma área fácil”, diz ela.

Em 2011, quando entraram na faculdade, Gabriela e Sérgio faziam parte do contingente de mais de 8 mil alunos que escolheram uma das 93 escolas de gastronomia de nível superior do Brasil.  Em menos de dez anos, a área explodiu como carreira universitária. De 2005 para cá, a quantidade de escolas saltou de 25 para 115. O número de novos alunos mais que triplicou, de 2.967 para 9.633. Foi uma das áreas que mais cresceram entre os cursos superiores, tanto em número de vagas quanto em número de candidatos. É como se, de repente, todos quisessem ser chefs.

Por que, em tão pouco tempo, a profissão de cozinheiro, que nunca tivera  prestígio, passou a atrair tanta gente?

Dois fatores simultâneos explicam esse fenômeno. O primeiro é o aumento no poder aquisitivo do brasileiro, que produziu uma revolução cultural na cozinha. A elevação de renda ocorrida desde os anos 1990 permitiu gastar em restaurantes bons, dentro e fora do país. Isso contribuiu para a aquisição de hábitos gastronômicos refinados e para a valorização de atividades de lazer, cultura e cuidados com o corpo. “A memória torna-se mais valiosa que a mercadoria. É a experiência que passa a valer”, diz Ana Carla Fonseca, diretora da agência de marketing Garimpo de Soluções. “O consumidor tem mais disposição para gastar com vivências positivas.”

  


Glamour

Não menos importante que a renda maior é um fator cultural moderno: a glamorização da profissão de chef. A TV alçou o cozinheiro ao status de celebridade. A maior evidência da popularização da figura do chef é sua presença no horário nobre da TV Globo, a novela Império. Um dos núcleos da novela gira em torno do chef Vicente, interpretado por Rafael Cardoso, e de seu rival, Enrico, vivido pelo ator Joaquim Lopes. Na vida real, Rafael e Joaquim, embora atores, são cozinheiros por formação. Rafael tem um blog de comida natural, o Pura Mesa, e prepara-se para abrir seu próprio restaurante, o Pura, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Joaquim se formou na Faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo, e desistiu da carreira depois do estágio. “A vida é dura na cozinha. Tem de descascar muita batata, limpar muito camarão e cortar muito os dedos”, afirma. Durante os intervalos de gravação das novelas, os dois costumavam cozinhar para os colegas. Alguém imagina os galãs de geração anteriores debruçados profissionalmente sobre o fogão?

Centenas de programas relacionados à gastronomia foram produzidos na última década. Somente na categoria reality show são 112, incluindo a versão brasileira do Masterchef, da Band, e o Cozinha sob pressão, versão do inglês Hell’s kitchen, do SBT. Nessa lista nem estão dezenas de programas de receitas tradicionais, de nomes como Jamie Oliver e Palmirinha. A razão para tantos programas é simples: eles atraem telespectadores. O canal por assinatura TLC concentra 45% de sua audiência em produções de cozinha como Hell’s kitchen, Food fighters e Bakery boss. A emissora tem sete atrações do gênero. O Discovery Home & Health dedica as terças-feiras a séries de gastronomia. São seis programas, entre eles Cake boss e o Masterchef junior EUA. O Cozinha sob pressão deu ao SBT o terceiro lugar na TV aberta, no sábado, com 5,2 pontos de audiência, quase 2 pontos a mais do que a emissora tinha antes do programa. O Masterchef  já alcançou 7 pontos nas noites de terça-feira, o segundo lugar na TV aberta. No canal GNT, há 15 programas de culinária.

Livros & fãs

A gastronomia invadiu outras áreas do entretenimento e da cultura. Nas livrarias, ganhou destaque com variedade de títulos e edições luxuosas, que ultrapassam os R$ 300. O “cinema do gosto”, como são chamados os filmes da área, ganhou um catálogo de mais de 30 filmes na última década. Só neste ano, foram três destaques: os americanos Chef e A 100 passos de um sonho e  o belga Bistrô Romantique. Cozinheiros também invadiram o cinema verdade. A Livraria Cultura, de São Paulo, sediou no ano passado um festival de documentários de gastronomia. O que mais chamou a atenção foi Por que você partiu, que narra a história de notórios chefs franceses que vivem no Brasil. Na ficção ou na vida real, os chefs são o personagem principal de filmes, novelas e livros.

A valorização de ingredientes e receitas regionais em todo o mundo deu projeção internacional à gastronomia feita no Brasil. Alex Atala, do restaurante D.O.M., ganhou a companhia de profissionais como Helena Rizzo, do Mani – primeira brasileira no ranking de melhores chefs do mundo –, Thiago Castanho, do Remanso do Bosque, e Rodrigo de Oliveira, do Mocotó. Os cozinheiros viraram porta-vozes da cultura brasileira.

A figura do chef alcançou tanta notoriedade que descolou da principal função da profissão: cozinhar. Chefs estrelados conquistam mais fãs (e dinheiro) com as palestras e aparições na mídia do que com seus pratos. O estudante Nicolas Fusco, de 19 anos, entrou no curso de gastronomia da Universidade Estácio, em São Paulo, inspirado na figura de Atala. “Ele sabe pegar os pratos típicos, desconstruí-los e fazer algo único”, afirma. Gustavo de Oliveira Azevedo, de 21 anos, formado em gastronomia na Anhembi Morumbi, admira o inglês Gordon Ramsay, do programa Hell’s Kit­chen. “Ele cozinha muito bem.” Nicolas e Gustavo jamais sentiram o gosto da comida dos chefs em que se inspiram. A imagem que eles projetam é suficiente.

Esse entusiasmo coletivo com a boa comida tem efeitos diretos na economia. A quantidade de novos negócios de alimentação – incluindo restaurantes, lanchonetes, padarias e cafés – tem aumentado à casa de dois dígitos por ano, nos últimos cinco anos. O mercado brasileiro de alimentação fora de casa cresceu de R$ 38,6 bilhões, em 2005, para R$ 116,55 bilhões, em 2013, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). O brasileiro nunca comeu tanto fora. Em média, 37% do gasto com alimentação é destinado a refeições fora de casa. Paulistanos e cariocas, que respondem por 42% dos gastos fora de casa do país, puxam a média para cima. Despendem, em média, 47% de tudo o que gastam com alimentação em restaurantes. É um percentual equivalente ao do americano, que consome 48% do orçamento alimentar comendo fora.

Procura por mão de obra

Isso tudo gera empregos, claro. A Associação de Bares e Restaurantes (Abre) estima haver 45 mil vagas abertas nas cozinhas profissionais brasileiras, de cantinas e botecos a restaurantes de luxo. Só no site de recrutamento Catho, há 3.029 colocações de cozinheiro e ajudante de cozinha esperando candidatos. As cozinhas precisam de profissionais, e uma legião de jovens entusiasmados está louca para assumir o fogão. Tem como dar errado? Na prática, tem dado.

Tão impressionante quanto o aumento de vagas nas escolas de gastronomia é a taxa de desistência nesses cursos. Enquanto a média nacional de evasão universitária gira em torno de 20%, em gastronomia o índice ultrapassa 50%. Os números do MEC mostram que, para cada dez  alunos matriculados na graduação, apenas quatro pegam o certificado de conclusão – ainda que os cursos de gastronomia durem dois anos, metade do tempo regular da maior parte das faculdades.

Dureza dos salários

A dureza do dia a dia na cozinha leva os aspirantes a desistir do avental. Nos primeiros estágios, ainda durante a faculdade, os alunos percebem quanto a rotina da profissão é difícil. Descobrem que dez horas em pé numa cozinha quente, ora lavando o chão, ora descascando quilos de legumes, demoram a  passar – enquanto o próximo dia de trabalho chega muito depressa. “No  estágio, descobrimos que a cozinha da faculdade era a Disney”, diz Gustavo. Formado em 2010, ele desistiu de se empregar na área. “Hoje, dou aulas de inglês. Só volto para o fogão se for no meu restaurante”, afirma. O paulista Nicholas Fuchs Almeida, de 24 anos, também mudou de profissão com o diploma de gastronomia na mão. É vendedor numa importadora e produz cervejas artesanais por hobby. “Fui trabalhar num cruzeiro internacional e cheguei a ficar 17 horas direto na cozinha, para receber US$ 600 por mês. Não dá.”

Os salários não animam os talentos gastronômicos. Terminado o estágio, a remuneração de ajudante varia entre R$ 800 e R$ 1.200. Para cozinheiros, os valores ficam, em média, entre R$ 2.500 e R$ 4 mil. Para chegar aos R$ 4 mil, é preciso ser sous-chef (pronuncia-se su-chef), o primeiro cozinheiro depois do chef titular. Essa função normalmente é dada a quem tem anos de intimidade com as panelas. O sonhado posto de chef tem média salarial entre R$ 3.500 e R$ 5 mil. Na Região Sudeste do país, há chances de valores mais altos.

“Há 20 anos, tínhamos gente que queria trabalhar e escassez de qualificação. Hoje, o problema é o oposto. Há jovens formados, mas eles não estão preparados para o ritmo pesado da cozinha”, diz o chef francês Roland Villard, do restaurante Le Pré Catelan, do Sofitel do Rio de Janeiro. Villard faz parte do conselho da Le Cordon Bleu brasileira, escola internacional de gastronomia que deverá ser inaugurada em maio do próximo ano. “Teremos uma escola-restaurante aberta ao público. O aluno passará o último ano do curso trabalhando nela para chegar ao mercado sem idealização.”

Cozinheiros e donos de restaurante são unânimes ao dizer que o ideal é conhecer uma cozinha profissional antes de virar aluno. “Vá lá, ofereça-se para lavar o chão e as panelas de graça. Foi o que fiz antes de decidir estudar”, diz Benny Novak, chef e sócio do Ici Bistrô e de mais duas casas em São Paulo. A chef Renata Vanzetto, dona do Marakuthai, que funciona em São Paulo e em Ilhabela, e do Ema, em São Paulo, decidiu que viraria cozinheira depois de trabalhar em cozinhas da França e da Inglaterra, durante uma temporada de mochileira entre os 17 e os 18 anos. Para os chefs, a equação é simples: o estágio prévio livra o futuro aluno de aspirações fantasiosas que, na opinião deles, só atrapalham a vivência na cozinha. “O cozinheiro é um soldado que serve ao público na cozinha”, afirma Gastón Acurio, o premiado chefe de cozinha peruano (leia a entrevista com ele em epoca.com.br). Se o cozinheiro normal é um soldado, os grandes chefs podem ser generais rigorosos. “O sushiman vem aqui para aprender meu estilo, não criar o dele”, diz Jun Sakamoto, dono do mais premiado restaurante japonês de São Paulo.

Uma forma que muitos encontram para realizar o desejo de comandar sua própria cozinha é empreender. A prática comum dos profissionais de cozinha é achar sócios capitalistas para abrir seu restaurante. Nesse caso, é importante encontrar um homem do dinheiro que entenda as peculiaridades do mercado. “É um setor muito sensível. No último ano, houve queda de movimento por causa das manifestações e da Copa do Mundo. É essencial ter margem para lidar com mudanças de receita bruscas”, diz Marcelo Fernandes, sócio de cinco restaurantes em São Paulo, entre eles o Kinoshita e a Mercearia do Francês. Sakamoto, dono do restaurante que leva seu nome e da Hamburgueria Nacional, dá outro conselho. “Para quem quer ter um restaurante, é útil estudar administração de empresas”, diz. “As margens nesse ramo são muito apertadas. Administrar bem pode ser a diferença entre ter lucro e não ter.” Quem não quer arcar com a responsabilidade de abrir o próprio restaurante pode investir em operações enxutas, como serviços de bufê, casas especializadas em fornecer para restaurantes e até em comida de rua, os famosos “food trucks”.

Grandes indústrias

Há oportunidades que permitem combinar o gosto pelo fogão e a tranquilidade de uma vida com jornada comercial. O trabalho em grandes indústrias alimentícias – como Nestlé, Unilever, Yoki ou Quaker – e em redes de restaurantes que ficam dentro de empresas permite isso. Essas cozinhas têm hora para entrar, hora para sair e finais de semana liberados. O importante é descobrir o que funciona para cada um.

A chef Renata viveu uma história curiosa depois que já era dona do Marakuthai. De tanto insistir, ela conseguiu ser aceita para fazer um estágio de 25 dias no Noma, o restaurante número um do mundo, segundo a revista Restaurant. Ao chegar lá, levou um susto. Eram dezenas de cozinheiros num lugar enorme. Todos para servir somente o Noma. Entre eles só havia duas mulheres. Logo de cara, um cozinheiro português disse: “Olha, apostei que você consegue ficar dois dias aqui. Os homens costumam ficar cinco dias até correr. As mulheres, um.  Me ajuda a ganhar o bolão”. Dezesseis horas de trabalho insano depois, Renata entendeu a razão da aposta. Saiu de lá curvada de tanta dor no corpo. “Não se pode cometer nenhum tipo de deslize no jeito de fatiar, de lavar, de montar o prato, de temperar. É muita pressão estar entre os melhores do mundo. Lavei a cozinha inteira três vezes naquele dia”, diz ela. Renata conta que voltou no dia seguinte, e no outro, até completar 25 dias. O colega português perdeu o bolão. Aos 24 anos, ela ganhou varizes nas pernas, que ainda doem. “Estou acostumada a trabalhar muito, mas aquilo é insano. Jamais conseguiria me adaptar a um restaurante desse nível.”  Para Renata, Noma nunca mais. Ainda bem que há outras cozinhas no mundo, com estilos e pessoas diferentes. Lugares capazes de acolher o talento e as enormes expectativas de uma geração que cresceu fascinada pela comida e por seus ri­tuais. “O prazer de manipular os ingredientes e de preparar um prato compensa qualquer estresse”, diz Villard, do Sofitel. “O aluno precisa se dar a oportunidade de ficar o tempo suficiente para entender isso.”

A popularização dos chefs na TV

Os cozinheiros começaram dando receitas, passaram a comandar reality shows e agora chegaram às novelas:
Masterchef Brasil; Jamie Oliver; Masterchef Junior; novela Império e sua cozinha do então "Enrico" e agora "Vicente", sem contar a modificação do pé-sujo de Santa Tereza; Anthony Bordain;


Olivier Anquier. Os dois últimos nos presenteiam com suas viagens gastronômicas, sendo que Anquier comanda um programa, junto com outros chefs renomados, meio reallity, com disputa entre cozinheiros.

ESPECIAL GASTRONOMIA Especialista denuncia terrorismo nutricional

ESPECIAL GASTRONOMIA (CEASAS) Brasileiros estão comendo menos e gastando mais


Por Jorge Lopes

O ano de 2014 mal fechou e já temos um prognóstico que avaliza as últimas pesquisas sobre o consumo dos brasileiros, que teria sofrido uma retração. De acordo com levantamentos feitos pelo Programa Nacional de Hortifrutigranjeiros (ProHort) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), nos últimos dois anos houve uma diminuição acentuada nas vendas de produtos nas maiores centrais de abastecimento do país. Ou seja, aponta os técnicos, o brasileiro comprou menos comida, mas gastou mais.  O estudo envolveu dados divulgados pelas diretorias técnicas da Ceagesp (SP), maior central da América Latina, e das ceasas do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e do Paraná., desde o início de 2013.

Em 2013, foram comercializados nestes cinco mercados 2.936.671.824 quilos de produtos. E neste ano que ainda não se encerrou, caiu para 2.777.769.765 quilos. Será que os fatores climáticos contribuíram, como a estiagem na Região Sudeste do país e as chuvas intensas no Sul? Pode ser.  Mas, enquanto comprou menos, o brasileiro gastou nesses mesmos locais, em 2014, R$ 6.258.446.695,  pouco mais de 11% em relação ao ano anterior, quando registrados R$ 5.595.628.332. As vendas diminuíram 5,4%, no total geral.

Os brasileiros comeram menos frutas, verduras, legumes e ovos, mas gastou mais devido aos preços que variraram muito no período estudado pelo Programa. E a tendência é que o consumo desses alimentos caia mais ainda, levando comerciantes a jogar toneladas de frutas e legumes fora, como assistimos na tarde de quinta-feira (27/11), na Ceasa do Irajá, bairro da Zona Norte do Rio: uma caçamba de lixo foi utilizada para colocar quase uma tonelada de batatas que não mais serviam para a venda ao consumidor. Essas batatas estavam sendo recolhidas por um criador de porcos de uma das favelas das proximidades. O mesmo acontecia com o abacaxi, que também estavam sendo jogado fora aos montes.  A Central carioca está sendo abastecida por grande quantidade de batata, cebola, alho e abacaxi, mas não está conseguindo vender tudo que compra dos produtores. E o destino final é o lixo. Não vendem porque mantém os preços altos que mal dão para cobrir os custos, afirmam comerciantes.

Outras quedas acentuadas

Em relação às hortaliças e legumes, entre 2013 e 2014, houve uma queda de 3,4% no período, na comercialização desses produtos nas centrais de abastecimento pesquisadas pelo Mapa.  Em relação a esses produtos classificados pelo programa, houve uma queda acentuada de 14,5%, na comercialização: de R$ 5.770.775.942 para R$ 4.932.480.49.  A queda foi bem maior, -27,4%, quando nos referimos às vendas de flores, produtos orgânicos e ovos: 210.556.174 quilos em 2013, contra ao volume de comercialização que chegou, até agora, a 152.793.348 quilos. O total em dinheiro, também teve queda abrupta de -21,5%: R$ 671.920.895 (2013) contra R$ 527.565.609 (2014).

Variação julho/agosto

Em relação a cinco produtos que foram destaque durante este período, devido às altas dos preços, temos o seguinte:

A batata teve o seu preço mais baixo, de acordo com levantamentos do ProHort, verificado, durante os meses de julho e agosto passados, na Ceasa de Minas Gerais, onde sofreu uma queda de -17,57% nesse período, quando foi vendida em média a R$ 0,60. A alface teve o seu menor preço verificado na Ceasa do Rio de Janeiro, que é abastecida em 100% por produtores fluminenses. O preço da verdura apresentou queda de -12,12%, onde a média chegou a R$ 0,92.

No caso do tomate, o menor preço praticado ocorreu na Ceasa de Minas (R$ 1,23),  mesmo apresentando um aumento de 2,27% no preço final, nesses dois meses pesquisados.

Em relação à cebola, os menores preços praticados ocorreram nas ceasas do Rio de Janeiro e São Paulo (Ceagesp), que foi em média de R$ 1,18. Apresentando queda de -6,7% na primeira, e de -7,76%, na segunda central de abastecimento e maior do país.

Já, a cenoura teve aumento em duas centrais e redução de preço em outra: +12,96% (Minas gerais) e +0,06% (Paraná) e queda de -4,82% (Espírito Santo).

Queijo premiado tem selo de indicação


Em 2013, o queijo da Serra da Canastra, em Minas Gerais, virou símbolo da luta para que o produtor e o produto de qualidade sejam reconhecidos, legalizados e distribuídos livremente pelo País. Por isso, foi escolhido o Produto do Ano do Prêmio Paladar, organizado pelo jornal O Estado de São Paulo..

O uso pelos chefs e a venda em São Paulo (já nem está mais tão difícil encontrá-los na cidade) acabaram legitimando os queijos produzidos na Canastra, por aqui. Mas foram necessários anos de campanhas, mobilização dos produtores e até um documentário sobre a proibição da venda de queijos mineiros tradicionais para as coisas começarem a mudar.

No meio deste ano, os mineiros conseguiram a aprovação de uma nova norma que reconhece a inspeção estadual do queijo como equivalente à federal (feita pelo conhecido SIF, o Serviço de Inspeção Federal). Na prática, isso significa que os produtores que tiverem o selo do Instituto Mineiro Agropecuário poderão vender seus queijos frescos e curados no Brasil inteiro.

A inauguração de um centro de maturação em Medeiros, na Serra da Canastra, em agosto, foi outro marco no processo de legalização do passaporte da produção. Construído com investimento do Ministério do Desenvolvimento Agrário e órgãos do Estado de Minas, o centro – embora ainda tenha capacidade limitada – vai permitir aos pequenos produtores cumprir as regras determinadas pela legislação e submeter o produto ao prazo de maturação exigido por lei.

Os queijos da Serra da Canastra são elaborados conforme a tradição local, em geral por pequenos produtores que perpetuam uma cultura centenária. São mineiros autênticos. Essa é a nossa contribuição para reforçar a importância deste produto brasileiro artesanal e ajudar a abrir o caminho para uma cultura gastronômica mais amadurecida, quer dizer, curada.

Terroir brasileiro está atrasado 200 anos, se comparado aos europeus.


Caminhando com dificuldades, mas com alguns resultados de sucesso, o Brasil já tem 24 regiões reconhecidas pela excelência e tradição dos seus produtos gastronômicos. Todos recebem o selo de Indicação Geográfica (I.G), que é o modelo abrasileirado do

Por aqui, o primeiro produto a ser reconhecido foi o arroz gaúcho, produzido no litoral leste, em 2010, mas que não está a venda até hoje por falta de melhor estrutura. Produtores atribuem o problema à dificuldade de investir na promoção da marca e ao pouco conhecimento que o consumidor tem das IGs. “Somos recém-nascidos nessa área. Na Europa, estão pelo menos 200 anos na nossa frente”, diz Clovis Terra, presidente da Aproarroz, que zela pela Denominação de Origem do arroz gaúcho, e vice-presidente da Origin, organização que dá suporte a IGs em todo o mundo.

Existem, porém, casos bem-sucedidos, que mostram o potencial do selo – como o dos vinhos do Vale dos Vinhedos (RS), o do café do Cerrado Mineiro ou o do queijo da Serra da Canastra. Os vinhos, certificados desde 2002 e encontrados em mercados por todo o País, são um marco do salto de qualidade proporcionado pela associação em torno da promoção de sua região.

Os cafés mineiros com IG desde 2005 vêm com um selo com QR Code, por meio do qual o consumidor, com o celular, pode saber exatamente onde e por quem aquele grão foi produzido. “A Suplicy Cafés Especiais já tem uma linha com nosso selo e a Três Corações e o Café do Centro vão lançar uma também”, diz Juliano Tarabal, da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro.

Já o queijo canastra não só se fez conhecido pela qualidade como levantou a discussão que opõe métodos tradicionais e leis sanitárias.

 “Não adianta tentar fazer padronização industrial do nosso queijo. A nossa diferença é justamente o saber fazer antigo, que se traduz em qualidade. A IG reconhece isso”, diz Paulo Henrique Almeida, da Associação dos Produtores de Queijo da Serra da Canastra. Ele conta que, depois do selo, produtores passaram a receber três vezes mais pelo queijo – e gerações mais novas agora consideram ficar no campo, tocando o negócio da família.

Assim, em que pesem os obstáculos para que as IGs vinguem, há bons exemplos a seguir – e é notável a disposição e empenho de grandes instituições em torno do tema.

O Ministério da Agricultura (Mapa) trabalha desde 2005 no fomento às cadeias produtivas agropecuárias para obtenção de IGs. Com ao menos um técnico em cada Estado e uma coordenação em Brasília, identificou já 230 regiões com potencial para reconhecimento de IG – e trabalha diretamente com 75 delas. “Não se cria uma IG, se reconhece. Temos tido cuidado na relação com produtores para preservar especificidades locais. O Estado não pode impor dinâmica que desrespeite a tradição”, diz Beatriz Junqueira, coordenadora de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários do ministério.

Tal visão marca entendimento mais compreensivo por parte do Mapa, que leva em conta o conflito entre leis sanitárias pensadas para a grande indústria e a realidade de pequenos produtores.

Outro peso-pesado envolvido na questão é o Sebrae, que promete investir R$ 43,3 milhões até 2018 na área. Atualmente, apoia 16 regiões em diferentes Estados no processo para obtenção da certificação.

 “Os produtos com IG entram nos mercados de forma diferente. Contam histórias, revelam o saber fazer de gerações, resgatam experiências, emoções. O consumidor está disposto a pagar mais por um produto que lhe proporcione tudo isso. O importante não é quantidade e sim qualidade”, diz Enio Duarte Pinto, gerente da Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia do Sebrae.

Terroir que tanto ouvimos falar na alta gastronomia estrangeira, principalmente no que se refere à vinhos.

Ceasa gaúcha tem festival de gastronomia orgânica


A moda dos alimentos orgânicos está por todos os estados do país.  Até domingo, os gaúchos terão oportunidade de participar da BioNat Expo-Feira de produtos Orgânicos, Agroecológicos e Sustentáveis, que começou nesta sexta-feira (28/11), no Centro Cultural Usina do Gasômetro, uma bonita instalação situada no Centro de Porto Alegre. Em sua sétima edição, o evento tem como tema as experiências sustentáveis na agricultura familiar orgânica, que faz parte das comemorações pelo Ano Internacional da Agricultura Familiar.

Evento, anual e pioneiro no Rio Grande do Sul, no segmento, a BioNat Expo, organiza nessa edição o 1o. Festival de Gastronomia Orgânica e Sustentabilidade na Cozinha em parceria com o Grupo de Trabalho de Gastronomia do Governo do Estado, para fomentar e promover a cadeia produtiva dos orgânicos e sustentáveis e conscientizar a população sobre a importância da alimentação saudável e das boas práticas cotidianas para a preservação da vida.

Consumo de produtos biofortificados é melhor?



Plantas biofortificadas têm alta produtividade e fornecem alimentos enriquecidos, segundo pesquisa que está sendo posta em prática em todo o país.
   
Imagine consumir alimentos básicos para a saúde com até vinte vezes mais vitaminas e minerais. Graças a uma técnica conhecida como biofortificação, isso é possível. Não bastasse o apelo nutritivo, pesquisas demonstram que altos níveis de ferro, zinco e pró-vitamina A em sementes contribuem para a nutrição da própria planta, gerando uma expectativa de produtividade maior. A partir de repetidos cruzamentos entre plantas da mesma espécie, novas culturas são originadas até se chegar a uma com quantidade de micronutrientes suficientes para integrar o seleto grupo de cultivares que irão servir de forma eficiente no combate a deficiência alimentar (fome oculta), que assola cerca de dois bilhões de pessoas ao redor do mundo.

 

Além da alta taxa nutricional, testes em diversas cidades brasileiras confirmam a alta produtividade dessas cultivares. O produtor rural Francisco Flávio e Silva, do Município de Oeiras no Piauí, conseguiu colher junto com o pai, seu Luís Costa e Silva, 12 toneladas por hectare de mandioca biofortificada (BRS Jari), quando a média nacional da cultivar convencional é de 13,61 toneladas por hectare, segundo dados do IBGE (2012). Nesta propriedade também se pôde comparar a produção de batata-doce convencional, que resultou em colheitas de dois quilos por metro quadrado, com a batata-doce biofortificada, que superou, atingindo oito quilos por metro quadrado.

O agricultor Laerte Rosa, da cidade de Itaguaí, que fica cerca de 60 km da capital do Estado do Rio de Janeiro, planta batata-doce biofortificada da variedade Beauregard com uma produtividade que chega a dezessete toneladas por hectare; quando a média nacional é de apenas oito toneladas por hectare da variedade convencional. A assistência técnica oferecida pela Embrapa e instituições parceiras tem garantido esse aumento de produção.

Biofortificação no Brasil

A Rede BioFORT engloba todos os projetos de biofortificação no Brasil coordenados pela Embrapa, concentrando esforços nas áreas mais pobres do Nordeste do País. Objetiva melhorar a nutrição por meio de programas de alimentação escolar. "A biofortificação ataca a raiz do problema da desnutrição, tendo como alvo a população mais necessitada. Utiliza mecanismos de distribuição de alimentos já existentes e é cientificamente viável e efetiva em termos de custos. Pode complementar outras intervenções em andamento para o controle da deficiência de micronutrientes. É, em suma, um primeiro passo essencial que possibilitará que famílias carentes melhorem de uma maneira sustentável, sua nutrição e saúde", afirma a pesquisadora Marília Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), líder da Rede BioFORT Brasil.

De 2009 a 2013, cerca de duas mil famílias de agricultores foram alcançadas com cultivos biofortificados em cinco estados do Brasil (Bahia, Sergipe, Maranhão, Piauí, Minas Gerais e Rio de Janeiro). O estado do Piauí − o mais pobre do País − possui o maior número de parcerias, desenvolvidas em conjunto com as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), empresas de assistência técnica e governos municipais. Eles servem como um modelo de Segurança Produtiva, um conjunto de medidas necessárias para reduzir os riscos da produção, prejuízos e permitir aos pequenos agricultores a produzir seu próprio alimento com colheita garantida. Em relação à distribuição de sementes, a Rede BioFORT Brasil utiliza unidades demonstrativas ou de produção, organizadas através do sistema de extensão nacional, para fornecer a agricultura familiar sementes e mudas de cultivos biofortificados."Nós iniciamos a primeira unidade em fevereiro de 2011, a partir de então a primeira colheita foi realizada para consumo. Já com a segunda unidade, começamos a comercializar em nível local (comunidade)", conta Francisco Flávio e Silva, articulador da Rede BioFORT no Piauí. Logo após, foi realizado um minicurso de processamento na própria unidade de produção, com mais de 30 participantes, quando foram produzidas receitas para transformação em subprodutos tanto da macaxeira como da batata-doce biofortificada. Isso facilita a venda e agrega valor aos produtos. Hoje, o comércio dos produtos se dá tanto na própria comunidade como nos municípios vizinhos.

O projeto de biofortificação de alimentos conduzido pela Embrapa no Brasil há mais de dez anos é realizado através de melhoramento convencional, sem materiais geneticamente modificados (transgênicos). O foco do projeto é em alimentos básicos da dieta da população como arroz, feijão, feijão-caupi, mandioca, batata-doce, milho, abóbora e trigo. Maria Cristina Paes, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) e membro da equipe que desenvolveu a primeira variedade de milho biofortificado (BRS 4104), explica: "Como encontramos variabilidade no nosso banco de germoplasma, conseguimos trabalhar com o melhoramento tradicional. Foram sete anos de pesquisa para selecionar em cada ciclo as espigas de milho com maior concentração de carotenoides e pró-vitamina A até chegarmos no BRS 4104. A vantagem dessa cultivar é a polinização aberta, ou seja, os próprios grãos viram sementes para o produtor." A equipe da Embrapa Milho e Sorgo também avançou em estudos de retenção desses compostos nos alimentos usualmente consumidos no Brasil, a exemplo do cuscuz, polenta, biscoitos e pães. Agora, a intenção é avançar nas pesquisas determinando o efeito biológico in vitro e in vivo dos carotenoides nessa variedade de milho para validar a atividade vitamínica A e também o efeito antioxidante, enfim avançar com a determinação da bioacessibilidade e biodisponibilidade.

Além disso, estão em curso pesquisas para o desenvolvimento de novas variedades de trigo, arroz e abóbora no Brasil. Também estão sendo avaliadas as dimensões de receptividade dos produtores nas comunidades rurais em relação às novas cultivares, os ganhos nutricionais, a aceitabilidade pelo consumidor, as vantagens agronômicas e comerciais.

Novos caminhos para a nutrição e saúde pública com alimentos biofortificados

A deficiência nutricional pode provocar à saúde humana efeitos negativos como morte prematura, cegueira noturna, retardo mental e de crescimento. Isso pode refletir em dificuldades de aprendizagem e baixa capacidade de trabalho, acarretando em prejuízo econômico aos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Na prática, distintas intervenções são necessárias para resolver esse problema de forma eficaz e sustentável, em diferentes contextos socioeconômicos e culturais. Tradicionalmente, as abordagens para prevenir a desnutrição de micronutrientes foram agrupadas em medicinal (suplementação), de base alimentar (fortificação de alimentos, biofortificação), educação nutricional, e intervenções de saúde pública (saneamento ambiental, vermifugação, controle da malária, etc).

A melhor e mais duradoura solução para eliminar a desnutrição como um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento é consumir de forma permanente uma série de alimentos básicos, ricos em nutrientes, visando a segurança alimentar e nutricional. A estratégia atual para combater a desnutrição nos países em desenvolvimento tem como enfoque principal o fornecimento de suplementos vitamínicos e minerais para mulheres grávidas e crianças. Entretanto, a biofortificação de alimentos básicos tem o potencial de elevar a ingestão de micronutrientes para milhões de pessoas no mundo, sem nenhum custo adicional para os consumidores.

Merenda mais nutritiva para estudantes

Parcerias formalizadas entre a Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) e as Prefeituras de Juiz de Fora, Capim Branco, Itabirito, Monte Carmelo, Patrocínio, Santana do Pirapama, no interior de Minas Gerais, reforçam a merenda escolar com alimentos mais nutritivos. A Rede BIORT, coordenada pela Embrapa, repassa sementes e ramas de cultivares com maiores teores de nutrientes. A parceria prevê a instalação de uma unidade de produção para multiplicação das cultivares e disponibilização de sementes e ramas a agricultores familiares selecionados, onde produzem feijão, mandioca, milho e batata-doce biofortificados.

Os agricultores, por sua vez, devem se comprometer a retornar a produção à Prefeitura, que comprará os alimentos para utilizar na merenda escolar das escolas da rede municipal de ensino. Mais de dois mil estudantes estão sendo atendidos com essas medidas.

No Rio de Janeiro, três escolas da zona rural do município de Itaguaí, que fica a cerca de 60 km da capital, já estão utilizando alimentos biofortificados. O almoço dos mais de trezentos estudantes de 4 a 12 anos sempre traz um produto biofortificado, seja batata-doce, mandioca, milho ou feijão. A própria Prefeitura mantém uma unidade de produção para o fornecimento desses alimentos mais nutritivos.

A mestranda do curso de Ciência de Alimentos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carolina Cláudio, orientada pela pesquisadora Rosires Deliza da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), está realizando testes sensoriais e de aceitação desses produtos. Os resultados devem ser divulgados no início do próximo ano. Essa equipe do Laboratório de Análise Sensorial e Instrumental (LASI) também está realizando um trabalho de popularização da ciência ligada à educação alimentar nutricional, com atividades lúdicas para os estudantes.

"Há crianças que responderam bem a esse trabalho, antes só comiam arroz e feijão, agora já comem carne, hortaliças e leguminosas, inclusive as biofortificadas", observa Carolina.