Dieta rica em gorduras melhora memória e aumenta a longevidade, sugerem estudos. A dieta cetogênica propõe o consumo de altos níveis de gorduras.
A lógica é simples: ela propõe a redução brusca na ingestão de carboidratos, substituídos por gorduras. Como os carboidratos são a principal fonte de energia do organismo, na falta deles a reserva de gordura é acionada. E a perda de peso pode não ser o único benefício dessa alteração nos hábitos alimentares, sugerem dois estudos independentes publicados na terça-feira no periódico “Cell Metabolism”. Resultados de experimentos com camundongos revelam que a restrição de carboidratos, com aumento na ingestão de gorduras, melhora a memória e aumenta a longevidade dos animais.
— O fato de termos tido um efeito tanto na memória quanto na preservação da função cerebral é realmente excitante — comentou Eric Verdin, presidente do Instituto Buck para Pesquisas sobre o Envelhecimento, na Califórnia, e coautor de um dos estudos. — Os camundongos mais velhos em dieta cetogênica tinham memória melhor que camundongos mais jovens. Isso é realmente notável.
Ambos os estudos dividiram as cobaias em três grupos, usando animais adultos. O primeiro seguiu dieta cetogênica, o segundo recebeu alimentação com baixo carboidrato e o terceiro foi o controle, com refeições normais. Depois, eles foram testados em várias tarefas, como labirintos, equilíbrio e roda para corridas.
Testes adicionais verificaram a função cardíaca e a regulação da expressão genética. Os resultados mostram que a dieta cetogênica influenciou a sinalização de insulina e padrões de expressão genética tipicamente provocados pelo jejum.
— A conclusão que extraímos dos experimentos é que o efeito é robusto — disse Verdin. — Os dois estudos se reforçam, porque ambos mostram o mesmo efeito global na saúde.
FORÇA FÍSICA COM O ENVELHECIMENTO
Enquanto os dois estudos mostraram melhorias na longevidade e em testes de memória, um deles concluiu que a dieta cetogênica preservou a aptidão física, como a força nas patas, em animais mais velhos.
— A magnitude das mudanças me surpreendeu — disse Jon Ramsey, professor da Universidade da Califórnia, em Davis, e autor sênior do segundo estudo. — Nós tínhamos a hipótese de que a mudança no metabolismo induzida pela dieta cetogênica teria efeitos benéficos no envelhecimento, mas fiquei impressionado com as mudanças que observamos.
A dieta cetogênica tem sua origem no jejum. Há tempos que existe um reconhecimento de que a prática do jejum tem efeitos no emagrecimento, e no início da década de 1920, médicos descobriram que poderiam imitar os benefícios do jejum para pacientes com epilepsia cortando a ingestão de carboidratos. Quando os níveis de carboidratos são suficientemente baixos, o fígado começa a converter gorduras em ácidos graxos e corpos cetônicos, usados pelo organismo para gerar energia. Mas o corte dos carboidratos precisa ser drástico: os dois estudos usaram dietas em que gorduras representaram entre 89% e 90% do consumo calórico.
Mas a dieta apresenta riscos. Por exemplo, os camundongos que seguiram a dieta cetogênica poderiam ficar obesos, por isso, a equipe de Verdin alternou a dieta com alimentação normal, e os pesquisadores da Universidade da Califórnia limitaram a ingestão de calorias. Essa diferença técnica pode explicar porque, no segundo estudo, os camundongos mantiveram suas capacidades físicas com o envelhecimento.
CUIDADO: DEFICIÊNCIA EM VITAMINAS E EFEITO SANFONA
Contudo, especialistas alertam que os estudos foram realizados com camundongos, não com humanos, e, por isso, não é recomendável que as pessoas comecem dietas desse tipo por conta própria. Além disso, existem riscos associados, já que a substituição dos carboidratos por gorduras provoca deficiência em vitaminas e minerais.
— Sempre existiu um interesse humano de restringir a ingestão de carboidratos a níveis extremamente baixos para induzir a perda de peso, mas na maioria dos estudos essas dietas foram testadas por tempo muito curto pela dificuldade dos humanos em seguirem com esses hábitos alimentares — comentou Helen Truby, professora do Departamento de Nutrição na Universidade Monash, na Austrália, que não participou das pesquisas.
— Isso significa que um adulto consumiria apenas entre 20 e 30 gramas de carboidratos por dia, um padrão que leva à deficiência em vitaminas e minerais, a não ser que a dieta seja cuidadosamente construída, com apoio de suplementos.
Além disso, alerta a especialista, a conversão de gorduras em corpos cetônicos pode realmente levar ao emagrecimento, mas muitas vezes o peso perdido é recuperado após o fim da dieta, a não ser que a pessoa seja capaz de manter uma alimentação pouco calórica.
— Então as pessoas devem começar dietas cetogênicas? A resposta é não, a não ser que seja indicação médica, sob supervisão de um nutricionista que possa garantir a adequação nutritiva — recomendou a especialista.
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