quinta-feira, 30 de julho de 2015

Preço do aipim está 1 x 1

  
Os preços de alguns produtos estão baixando na Ceasa do Rio de Janeiro. A batata lisa, saca de 50 kg, estava sendo vendida nesta quarta-feira (29/7) a R$ 75 no atacado (lembrando que muita gente pode comprar diretamente nos boxes da Ceasa do Irajá, na Zona Norte do Rio, e na do Colubandê, em São Gonçalo, a granel); o aipim, caixa com 22 kg,  está a R$ 22; enquanto que a laranja pera, caixa com 25kg, a R$ 23. Veja esses e outros preços em nossa tabela, que passamos a publicar no Blog CeasaCompras.


 
 
 
 
 
 
 
 
 





 
 

Preços de produtos "feios" com desconto de 40% em São Paulo

                                      
 
No Rio, um saco com quase 5 kg desses mesmos produtos é vendido a R$ 2, e na feira e comércio de rua, um saquinho pode custar R$ 1;

Desde o último final de semana, o jornal O Dia, do Rio de Janeiro, vem trazendo uma ampla reportagem sobre as toneladas de alimentos que são jogadas foras todos os dias, nos campos e no comércio, sem qualquer preocupação. A não ser aquela referente à estética dos produtos para serem vendidos, que tem de obedecer um padrão estabelecido principalmente pelas redes supermercadistas brasileiras.  Mas, parece que para essas redes o dinheiro jogado fora não faz a mínima diferença, pois eles, parecem, ganham muito bem mesmo com a crise estabelecida no país. O lucro é vantajoso e quase igual ao dos bancos.

Na reportagem especial, ficou apurado que no Extra, Pão de Açúcar e Assai, os produtos considerados "feios" já são doados a instituições de caridade. Eles doam os produtos, preferem não vendê-los a preços bem menores.  Somente o Carrefour, em São Paulo, faz o contrário: vende os produtos "não adequados" com 40% de desconto. Alguns "sacolões" do Rio vendem sacos, que chegam a pesar quase 5 quilos, com vários produtos "feios", a R$ 2. Nas feiras e barracas, os comerciantes chegaram a uma solução inteligente: vendem sacos a R$ 1.

Enquanto isso, nas ceasas do Rio, São Paulo e Minas, o descarte de produtos ainda é apavorante. Veja a reportagem do
Dia.

Alimentos danificados em transporte e manuseio vão parar dentro do lixo

No exterior, mercados vendem produto 'feio' mais barato. Redes no Rio começam a seguir o exemplo lá de fora

Hilka Telles

Rio - A perda de 20% a 30% da produção de legumes, frutas e verduras, por questões de estética e contaminação, não é uma conta fechada quando se fala em desperdício. A maneira como os produtos são colhidos, armazenados e transportados até os centros de distribuição compromete a qualidade e é mais um fator que contribui para o desnível da balança: de um lado, meio milhão de fluminenses passando fome e, de outro, comida virando lixo. A estimativa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, ligada ao Ministério da Agricultura) é que haja perda de mais 30% de frutas e hortaliças após a colheita.

O repasse de técnicas de manuseio e embalagem poderia reduzir a perda, acreditam os produtores. Quem costuma comprar mamão papaia em algum momento deve ter observado marquinhas redondas na parte superior, junto ao caule? O amassado, que em poucos dias gera fungo na fruta, nada mais é do que a marca dos dois dedos (indicador e médio) usados por quem colheu o mamão do pé, de maneira errada.
No transporte perdem-se verduras, frutas e legumes devido a vários fatores. Um deles é a forma de acondicionar alimentos nos caixotes e caminhão.

O armazenamento também é um dos vilões do desperdício. “O que víamos há 15 anos é o mesmo que observamos agora: a maioria dos produtores ainda usa caixa de madeira para armazenar os produtos”, critica o engenheiro químico Antônio Gomes, doutor em Ciência de Alimentos, da Embrapa. O mau acondicionamento causa amassados e marcas de ripas nas frutas e legumes, inserindo-os na categoria dos fora do padrão para a venda. A maioria é descartada.

Estudo da Embrapa sobre o armazenamento de caquis em caixas tradicionais, do tipo caixote de madeira, concluiu que havia perda de 63% por corte, abrasão ou amassamento. Com base nessa pesquisa, engenheiros desenvolveram modelos de caixa de papelão (chamadas de caixetas) para acondicionar 3,5 quilos de caqui, por embalagem. Com elas, a perda seria reduzida para 3% apenas.

Nos últimos três anos, foram desenvolvidas caixas para acondicionamento de morango, palmito pupunha, mamão, manga e caqui. As próximas serão maçã, pera, banana, pêssego e tomate. Quatro empresas adquiriram a licença para usar as caixetas. Por essas embalagens inovadoras e sustentáveis, a Embrapa, o Instituto de Macromoléculas da UFRJ e o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) receberam o prêmio alemão ‘Food Packing Award’.

“O brasileiro tem despreocupação com quantidade. Temos a cultura do desperdício”, arremata o engenheiro agrônomo Marcos Fonseca, doutor em Produção Vegetal, que aponta algumas soluções para o problema. Além do repasse de técnicas de manuseio e embalagem, principalmente para os pequenos produtores, ele aponta a transferência das tecnologias existentes e a criação de projetos para o processamento de alimentos destinados ao descarte.

Feios com valor no exterior

Portugal e França saíram na frente do mundo: arregaçaram as mangas e partiram para o combate maciço ao desperdício de alimentos que não estão dentro dos padrões estéticos para comercialização. Com campanhas publicitárias robustas sobre o tema, os dois países investem na conscientização da sociedade. Por que não consumir os produtos considerados feios, fora dos padrões estéticos exigidos tradicionalmente, se eles têm as mesmas propriedades, nutrientes e sabor?

Sob o slogan ‘Gente bonita come fruta feita’, a campanha lusa abraçou também a missão de elevar a autoestima dos legumes e das verduras junto ao consumidor. Resultado: em um ano e meio da criação da Cooperativa da Fruta Feia, somente em Lisboa 16 toneladas dos três tipos de alimentos deixaram de ir para a lata de lixo. O primeiro mercadinho destinado à venda dos feiosos deu mudas e hoje já existem mais dois pontos de distribuição. Os alimentos são recolhidos diretamente dos produtores.

Na França, o tema da campanha foi ‘Frutas e vegetais inglórios’, alavancada pelo Supermercado Intermaché, que passou a comercializar alimentos antes rejeitados pelo público, ou porque nasceu com defeito ou porque sofreu alguns danos durante o processo entre a colheita e a distribuição. Foi um sucesso. Vendidos a 30% do valor dos bonitões, os inglórios viraram estrelas e sumiram rapidamente das gôndolas.

Em maio deste ano, o Congresso francês aprovou por unanimidade a lei que prevê multa e até prisão para casos de supermercados que descartarem alimentos não vendidos.

No Brasil, a nova onda pode ganhar volume. O grupo Carrefour criou um programa próprio, semelhante ao português, e dá desconto de até 40% no preço. Mas, por enquanto, a novidade se restringe a São Paulo.

O Grupo GPA, responsável pelas bandeiras Extra, Pão de Açúcar e Assaí, também aderiu ao projeto de doações de alimentos e, apenas em 2014, repassou 3 toneladas de frutas e legumes a 300 instituições em todo o país. O DIA também procurou outros supermercados e pelo menos uma rede que comercializa produtos do gênero, mas nenhum deles quis falar.

Rio, paraíso da especulação de preços ao consumidor

                              
 
A especulação de preços de determinados produtos hortifrutigranjeiros continua um absurdo no Rio de Janeiro, principalmente em alguns locais da capital carioca, como feiras, supermercados e os chamados "sacolões". Um dos exemplos que assustou foi o preço cobrado pelo quilo do limão em um "sacolão" da Ilha do Governador, na Zona Norte carioca, que chegava a quase R$ 5, justamente numa época em que a fruta, tão apreciada na cozinha, tem os seus preços em baixa em várias centrais de abastecimento do país. Na capital fluminense, o preço no atacado - de acordo com dados fornecidos pela Ceagesp (SP) -  o quilo estava saindo por apenas R$1,60 ( a caixa com 25 kg fora negociada nesta terça-feira a R$ 40, preço médio).

Veja outros exemplos do preço do limão tahity em outras centrais de abastecimento do país (preço por quilo) : na Bahia (0,70); Espírito Santo (R$ 1,34); Minas Gerais (R$ 1): São Paulo (R$ 1,90).

A justificativa para o aumento aqui no Rio é sempre a mesma: a situação econômica por que passa o país. Mas, para nós, o que acontece é apenas uma coisa: especulação pura.  Nosso papel é esse: ajudar você na sua compra. Então, acompanhe os produtos que estão em baixa, em alta ou com os preços estáveis nesta semana, segundo a Ceagesp:

PRODUTOS COM PREÇOS EM BAIXA
Melancia, morango comum, maracujá azedo, tangerina cravo, tangerina poncam, coco verde, laranja lima, limão taiti, laranja pera, carambola, melão amarelo, goiaba branca e vermelha, banana nanica, abobrinha italiana, abóbora moranga, tomate rasteiro, berinjela, chuchu, batata doce rosada, cara, mandioca, couve manteiga, espinafre, repolho roxo, coentro, brócolos ninja, salsa, repolho, escarola, alface crespa, alface lisa, acelga, nabo, milho verde, alho porró e batata lavada.

PRODUTOS COM PREÇOS ESTÁVEIS
Mamão formosa, fruta do conde, caju, tangerina murcot, laranja seleta, maçã gala, uva itália, maracujá doce, acerola, manga tommy, abacaxi havai, banana terra, uva rubi, cara, tomate carmem, gengibre, pepino comum, batata doce amarela, pimentão verde, jiló, abóbora seca, rabanete, agrião, couve-flor, cenoura c/ folha, rúcula, batata asterix, e ovos branco.

PRODUTOS COM PREÇOS EM ALTA
Mamão papaya, pera estrangeira, jabuticaba, banana maçã, manga hadem, abacaxi pérola, uva rosada, maçã importada, pimentão amarelo, pimentão vermelho, pepino japonês, pepino caipira, beterraba, abóbora japonesa, ervilha torta, mandioquinha, vagem macarrão, tomate pizzad'oro, brócolos comum, alho argentino, cebola nacional e cebola estrangeira.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Quilo do frango aumentou 16,6% no atacado

                         
 
Apregoado como o salvador da pátria em relação aos preços altos cobrados pela carne bovina, o frango nosso de cada dia poderá aumentar mais por conta dos reajustes de preços no farelo de soja.

O poder de compra do criador de frangos paulista recuou 10% na parcial de julho, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). De acordo com a análise, a alta dos preços do farelo de soja, usado como ração, superou a valorização da ave e reduziu o lucro do produtor.

Segundo o Cepea, o farelo de soja foi sustentado pelas altas nos valores da oleaginosa em grão, por conta do período de entressafra no Brasil. Em julho, o preço do frango vivo foi sustentado pelo aumento da demanda, que fez o valor médio do animal atingir, na primeira quinzena do mês, o nível mais alto para o período em São Paulo, considerando a série histórica do Cepea iniciada em 2004. O produto foi cotado a R$ 2,53 o quilo na quinzena, 16,6% a mais ante igual intervalo de julho de 2014.

Depois da tragédia, Friburgo colhe resultados na agricultura

                              
 
Adoção de práticas sustentáveis por programa do governo fluminense está aumentando produtividade na agricultura familiar. Município chegou a ser arrasado pelas chuvas de verão há alguns anos.

Importante polo agrícola do Estado do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, na Região Serrana, é atualmente reconhecido pela grande produção de olerícolas, flores de corte, frutas, criação de trutas, além da produção agroindustrial e do cultivo de alimentos orgânicos. Agricultores de seis microbacias do município – Barracão dos Mendes, Conquista, Pilões, Santa Cruz, São Lourenço e São Pedro da Serra – estão aumentando sua produtividade graças à adoção de práticas sustentáveis incentivadas pelo Programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura. Nas seis áreas priorizadas, já foram liberados mais de R$ 3,7 milhões em recursos não reembolsáveis, diretamente para os produtores familiares.

Na localidade Fazenda Campestre (microbacia São Lourenço), a família do agricultor Ailton Gomes da Silva é uma das beneficiadas pelo programa. Há mais de 40 anos na região, o produtor e dois filhos se dedicam às lavouras de tomate, couve-flor, feijão, alface, couve, brócolis e temperos, escoados semanalmente para a capital fluminense. Com incentivo de quase R$ 6 mil do Rio Rural, foi possível adquirir equipamentos de irrigação, fazer a correção e adubação racional do solo com esterco de galinha, calcário, torta de mamona e farinha de osso e ainda promover a recuperação da mata ciliar do rio que corta a propriedade, com cercamento e plantio de capim vetiver, mudas de árvores nativas e frutíferas.

A elaboração do plano individual de desenvolvimento (PID) da propriedade, etapa da fase de planejamento das ações do Rio Rural, ficou a cargo da técnica agrícola Mirian Cordeiro, uma dentre os jovens rurais egressos do Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I (Ibelga) que estão prestando assessoria técnica aos beneficiários do Rio Rural no município. Ao mesmo tempo, a família será contemplada, junto com a associação local, por um subprojeto grupal de captação e distribuição de água potável, que beneficiará filhos de produtores que estudam no Ibelga.

O contato do produtor Ailton com práticas conservacionistas, no entanto, é bem antigo. Há 10 anos ele foi estimulado pela Emater-Rio e pela própria associação de produtores a proteger o solo do impacto direto da chuva, utilizando a palhada do milho. Segundo o agricultor, essa técnica diminuiu significativamente o uso de defensivos químicos. Isso ocorre porque torna a planta mais resistente ao reduzir o estresse hídrico e aumentar a absorção de nutrientes.

Já a filha do agricultor, Fabiane da Silva Pacheco, até então desconhecia a possibilidade de usar farinha de osso como adubo.

- Experimentei numa variedade de tomate e notei que a planta respondeu muito bem, ficando mais viçosa. Na colheita, houve aumento de produtividade - disse.

Engenheiro agrônomo da Emater-Rio e assessor técnico regional do Rio Rural, Gerson Yunes informou que as próximas microbacias a terem liberação de recursos financeiros no município serão Cardinot, Riograndina e Vargem Alta.

- Está no planejamento do programa iniciar os trabalhos nas microbacias Cascata, Lumiar, Macaé de Cima e Rio Bonito, ainda em 2015 - disse.

A atividade agrícola do município serrano é objeto de estudo de diversas pesquisas desenvolvidas pela Pesagro-Rio e recebe investimentos de outros programas setoriais e estruturantes da secretaria estadual de Agricultura, como Estradas da Produção, Prosperar, Florescer, Frutificar, Cultivar Orgânico e Crédito Fundiário.

Tirania da beleza nos campos levam ao desperdício de toneladas de alimentos

                          
 
Reportagem da consagrada jornalista Hilka Telles, de O Dia, deste domingo (26/7), traça uma radiografia trágica em relação ao que acontece nas regiões produtoras do estado do Rio de Janeiro, motivada há anos pelas redes de supermercados e pelos consumidores que ignoram o mal que fazem ao preferirem frutas e outros alimentos "bonitinhos", ao invés de comprar mais e por menos. Deputado e secretário estadual de Agricultura quer acabar com essa "onda" maléfica, como foi feito na França.

No estado do Rio de Janeiro, mais de meio milhão de pessoas vivem abaixo da linha da extrema pobreza, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É uma pobre gente que não tem sequer o essencial à vida, o direito à alimentação. Na contramão dessa dura e triste realidade está o inimaginável: por ano, 382.717 toneladas de frutas, legumes e verduras são descartadas ainda no campo (média de 25% da produção total). O principal motivo para o descarte é uma afronta a cada um dos milhares de seres humanos que amargam a miséria dia após dia. Os alimentos apenas não estão dentro dos padrões de boa aparência exigidos pelo mercado de consumo.

A produção anual é de 1,148 milhão de toneladas, segundo informação da Secretaria Estadual de Agricultura (quantidade destinada à comercialização). Produtores garantem que a perda no campo está entre 20% e 30%. Trabalhando com a média de 25% de perda, significa que a produção total no estado é de 1,530 milhão de toneladas de frutas, legumes e verduras. Esses números não consideram uma outra conta que nunca fecha: a do descarte nos setores de abastecimento e o mau uso dos alimentos pelos consumidores, que representam muitas toneladas a mais nesse mar de desperdício.

A situação é tão alarmante que o secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo, vai propor uma lei contra o desperdício, a exemplo do que já ocorre na França. “Vou fazer uma consulta pública. Temos que elaborar propostas de educação sobre o tema, que vão abranger questões de produtores, intermediários e consumidores. A lei será apresentada em até um ano”, revela Áureo.

Durante um mês, num levantamento inédito, O DIA acompanhou a cadeia de produção e abastecimento em municípios do Estado do Rio, percorrendo o caminho do desperdício desde o campo até a mesa do consumidor. A partir de hoje, exibirá em oito capítulos o drama que se repete com os mesmos percentuais no mundo inteiro.

Somente no Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), perdem-se por ano sete milhões de toneladas de frutas e seis milhões de toneladas de hortaliças, por contaminação ou simplesmente porque estão feios.

Numa única plantação em São José do Vale do Rio Preto, na Região Serrana, semanalmente quase duas toneladas de chuchu são abandonadas na terra, onde apodrecem. E em apenas uma das dezenas de lojas de frutas na Ceasa de Irajá, a mais importante central de abastecimento da capital, diariamente uma tonelada mamões tem o lixo como destino. Em nenhum dos dois casos acima os produtos estavam impróprios ao consumo.

Provavelmente, entre os milhares de cidadãos que passam necessidades alimentares no Estado do Rio de Janeiro, há uma parcela que nunca pôde sentir na boca o frescor de um morango maduro. Enquanto isso, na plantação dos irmãos Dacir e Gerson Condac, em Nova Friburgo, 3.200 quilos da fruta viram adubo, todo ano, embora conservem intactos o sabor e os nutrientes. Os agricultores são apenas um exemplo do desperdício que brota no solo fluminense.

Dacir, de 66 anos, e Gerson, de 58, trabalham na lavoura desde crianças. Localizada em Campo do Coelho, a propriedade deles é responsável pela produção de morango, tangerina, vagem, jiló, abobrinha e brócolis. A principal agricultura é a de morango, cuja safra se estende de janeiro a setembro.

“Colhemos cerca de quatro toneladas de morangos por semana. Nos cinco meses de safra, o total é de 80 toneladas. Perdíamos 20% (16 toneladas), porque a fruta não obedecia aos padrões estéticos necessários para comercialização — não cresceu o suficiente ou partes de sua casca foram danificadas pelo frio e pelo vento”, ressalta Dacir.

Há cerca de dois anos, o agricultor vislumbrou uma alternativa para diminuir o prejuízo e o desperdício. “Vendo o quilo por R$ 10. Dos 20% que eram descartados, agora consigo negociar com empresas que produzem polpa de frutas para suco e geleias. O quilo do descarte é vendido por R$ 5. Mesmo assim, ainda temos perda. Dos total do descarte, ficamos com uns 20% encalhados”, contabiliza Dacir.

Ou seja: o descarte total era de 16 toneladas em cinco meses. Dessas, o produtor passou a comercializar 12,8 toneladas para a confecção de polpa e geleia (80% do descarte). Isso significa que são desperdiçadas 3,2 toneladas de morangos.

“Perco de 20% a 30% de tudo o que produzo”, lamenta Gerson Condac. Em sua plantação de tangerina pocã, nada menos que 600 quilos da fruta são desperdiçados. A perda é porque ou está fora do padrão ou porque caiu sozinha do pé. “Se cair do pé, é sinal de que já está madura. Até chegar à Ceasa, passou do ponto. O freguês quer vitrine. Então, não consigo vender. Largo aí na terra para virar adubo”, afirma Gerson, que cuida de 400 pés de tangerina.

Ao lado das terras de Dacir e Gerson, visitada por O DIA em junho, havia uma plantação carregada de pimentões. Eram 25 mil pés da hortaliça. Muitos já estavam vermelhos ou no processo de amadurecimento, e a maioria era de tamanho muito pequeno, completamente fora dos padrões para comercialização. Outros apresentavam uma ou duas marcas de fungo no topo, próximo ao caule em que o pimentão se prende ao pé.

“O dono dessa plantação é José Vanderlei. Ele plantou e fez a primeira colheita. A segunda colheita deu fungo, e a maioria nasceu fora do padrão. Vanderlei abandonou a plantação e nem quis tirar os pimentões. Seria trabalho e dinheiro jogados fora, pois o produto não poderia ser vendido mesmo. Semana que vem ele vai jogar herbicida para matar os pés de pimentão”, contou Dacir, que não tem noção de quantas toneladas foram produzidas no vizinho.

A equipe de reportagem entrou na plantação e colheu várias amostras. Todos que estavam em tamanho inferior ao padrão ou ‘com defeito’ (torto, por exemplo) eram perfeitamente utilizáveis. Mas foram reprovados porque estavam pequenos ou feios. Os que estavam com fungos, bastaria cortar a parte superior e utilizar o restante (pelo menos 90% do pimentão seria aproveitado).

CHUCHU TEM QUE TER 20 CM
Um exército de miseráveis poderia fartar-se na plantação de Vanda Maria dos Santos, em São José do Vale do Rio Preto, município a 130 quilômetros do Rio de Janeiro. Resultado de uma perda de 30% da produção — porque o produto não atende ao alto nível de exigência do consumidor —, em semana quase duas toneladas de chuchu são atiradas na terra, sob as parreiras. Os números assustam mais ainda quando a matemática engloba os 30 dias do mês: o descarte é de 7,8 toneladas, que se transformam em adubo.

Vanda tem 50 anos e é meeira na vasta plantação: o dono das terras permite que ela plante e tenha todo o trabalho, enquanto ele fica com a metade do que é produzido. A despesa dele é dividir com a agricultora os gastos com fertilizantes industriais. Vanda trabalha com o sobrinho Jonas dos Santos Félix, de 28 anos. Ambos começaram a trabalhar na lavoura aos 8 anos de idade e têm pouquíssimo estudo.

“Na plantação são colhidas 200 caixas de chuchu, por semana, com 23 quilos em cada caixa”, explica Vanda. O que dá 4.600 quilos de chuchu por semana, aptos à comercialização. A perda na produção, segundo ela, é de 20% com chuchu defeituoso e 10% com os que ficaram graúdos demais. Portanto, a produção foi de 6.570 quilos por semana e se perderam 1.970 quilos (quase duas toneladas).

Enquanto Jonas colhe os chuchus nas parreiras, o chão vai ficando coberto do legume. O rapaz arranca do pé e já vai jogando na terra batida os que não podem ser vendidos. O legume cresce demais quando fica escondido entre as folhas e passa do ponto certo de colheita. O chuchu considerado padrão tem que medir uns 20 centímetros, no máximo, e ter a casca lisinha.

Tomate jogado fora para manter preço

Sebastião Hudson Filho, de 52 anos, é um ‘big shot’ do tomate em Paty do Alferes, município responsável pela maior produção do fruto no estado. Ele revela que, em 2014, jogou fora nada menos que 10 mil quilos de tomate.

A matemática é a seguinte: o agricultor produziu duas safras no ano, que lhe conferiram para venda 2.500 caixas de tomates, com 20 quilos cada. O total foi de 50 mil quilos do fruto (50 toneladas). De cada tonelada de tomate posta à venda, o agricultor afirmou que 300 quilos apresentavam imperfeições, inviabilizando a comercialização. Total de 15 mil quilos.

“Além disso, tive que separar mais 10 mil quilos de tomates esteticamente perfeitos, que não tiveram a Ceasa como destino. O preço de venda estava baixo e optei por não vender toda a safra boa, para evitar que o valor caísse mais ainda”, explica. Portanto, o agricultor colheu 75 toneladas (75 mil quilos).
Dos 25 mil quilos separados (15 mil de tomates feios e 10 mil de tomates bons), Sebastião conseguiu negociar 15 mil quilos com uma fábrica de massa de tomate. O resultado dos cálculos mostra que Sebastião jogou fora 10 mil quilos de tomates aptos ao consumo humano.

Na mesma Paty do Alferes, a cobrança pelo padrão do produto também faz o médio produtor Eliomar Vieira, de 47 anos, perder 30% de toda a safra de tomate, pimentão, pepino e vagem. “Quando nascem com defeito ou fora do tamanho padrão, não posso comercializar”, conta. Eliomar não quis falar em números absolutos, mas o fato é que um terço de sua produção, que poderia encher milhares de barrigas vazias pela pobreza, vira ração para os bois que ele mantém em sua propriedade.

Pequeno fungo condena as verduras

Saindo de Friburgo e entrando numa torturante estrada a caminho de São José do Vale do Rio Preto, a equipe de reportagem passou por campos e mais campos de verduras, com seus deslumbrantes tons de verde que se estendiam na amplidão das colinas.

Mas também havia áreas de agricultura familiar margeando a estrada. Numa delas, o ‘tapete’ de folhas de alface sobre a terra agredia os olhos e o bom senso. Folhas que poderiam estar na mesa de alguns dos milhares de famintos que existem no território fluminense. Porém, estavam ali, largadas para virar adubo.
A plantação era de Sônia de Moraes Faria, de 53 anos, pequena agricultora de alface, espinafre e cebolinha na localidade Santa Rosa, em Teresópolis. A plantação de alface lhe rendeu 36 caixas com 18 pés em cada caixa (total de 648 pés). Segundo ela, o desperdício foi de 20%. Ou seja: plantou 810 pés de alface e jogou fora 162 molhos (o equivalente às folhas descartadas).

“Quando a gente corta o pé do alface, é preciso tirar as folhas que ficam em volta e jogar fora. Elas têm sempre um furinho, um rasguinho, uma coisa assim. A gente retira para ficar apenas com as folhas que estão por dentro, bem verdinhas”, explica, enquanto vai retirando as folhas e jogando ali mesmo, sobre a terra de onde os pés de alface acabaram de ser cortados.

A pedido da reportagem, Sônia juntou algumas folhas, fez uma espécie de molho, segurando-o numa das mãos. Na outra mão, o pé de alface que seria levado para a venda. Ambos eram praticamente iguais. O desperdício era simplesmente por questão de estética, não por valor nutricional.

Ao lado da plantação de alface estava outra de cebolinha, com 320 molhos perdidos. Deu fungo na cebolinha. Sônia precisava ter colocado remédio a tempo de impedir a propagação do fungo e aguardar um mês até o produto estar apto para o consumo. Mas ela não teve dinheiro para o remédio e perdeu toda a colheita.

“Eu vi que era preciso colocar o remédio, mas não tive como comprar para aplicar”, lamenta. O fungo age na ponta da cebolinha. A aparência é de folha queimada, seca. Sônia passa seus produtos para um atravessador, que os revende na Baixada Fluminense e na Região dos Lagos.