domingo, 23 de novembro de 2014

Prejuízo dos agricultores paulistas é o pior em 50 anos devido à seca


Culturas como a do café, cana, milho, feijão e frutas cítricas tiveram grandes perdas. Estiagem na agricultura foi a pior desde 1963, segundo órgão do governo. Laranja, limão e tangerina não cresceram e os frutos murchos afastaram compradores. Produtores afirmam que 2014 é um ano para ser esquecido.

Fonte G1

A agricultura paulista pode registrar em 2014 o maior prejuízo em pouco mais de 50 anos devido a pior seca registrada em 80 anos, segundo o Instituto de Economia Agrícola, ligado ao governo do estado. Culturas como a do café, cana-de-açúcar, milho e feijão foram afetadas diretamente pelo calor excessivo e ausência de chuvas em grande parte de São Paulo, o que pode acarretar em perdas milionárias, ainda não calculadas por órgãos oficiais.

Celso Vegro, engenheiro agrônomo e coordenador de um estudo feito pelo instituto, afirma que é possível dizer que na atual geração de produtores agrícolas, nenhum evento climático foi tão severo ou teve um impacto tão generalizado quanto à seca de 2014. “Quem tem menos de 50 anos, nunca viu uma anomalia climática tão grave”, disse ele ao G1.

As perdas de colheitas são mais evidentes nas lavouras consideradas permanentes, como café, cana-de-açúcar e laranja, pois o plantio acontece uma vez ao ano. O período seco e quente ocasionou grande estresse para as fases vegetativas e reprodutivas dessas plantas.

De acordo com o IEA, o último período de estiagem grave sentido pela agricultura foi em 1963, mas, naquela época, a diversidade de cultivos era menor (o café predominava, além das pastagens).

Café

A estiagem sentida durante o verão impactou negativamente o tamanho dos frutos, que ficaram menores e “chochos” em decorrência da má formação das sementes. Nos principais cinturões cafeeiros de São Paulo, lavouras consideradas novas, plantadas entre 2012 e 2013, perderam quase todos os seus frutos pelo estresse das plantas. “É possível que venhamos a colher a safra do grão arábica abaixo das 28 milhões de sacas, quando o esperado seria acima de 32 milhões de sacas”, explica Vegro.
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Cana

Principal commodity paulista, foi a que mais sentiu a seca. Usinas espalhadas pelo estado pararam de trabalhar um mês antes do esperado e o segmento, segundo a Secretaria de Agricultura do estado, deve puxar para baixo o valor da produção agrícola paulista, cujo cálculo definitivo será realizado em fevereiro do próximo ano.

Segundo a última previsão do IEA, a colheita deverá alcançar 402,6 milhões de toneladas no estado na safra 2014/15, 9,4% a menos que em 2013/14. De acordo com relatório da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, a Unica, há expectativa de quebra da safra 2015 de até 11,7% em relação à safra passada.

Produtores do Noroeste do estado já contabilizam prejuízos. “Esse ano foi muito complicado. A gente espera que a chuva volte e nos ajude para esta safra [2015], pelo menos para conseguirmos pagar o prejuízo que tivemos até agora”, explica Juliano Maset, que tem uma propriedade em Monte Aprazível, a 484 km de São Paulo.

Feijão, milho e soja

Luís Carlos e o pecuarista Paulo Andrade acompanham a produção (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)Produtores de milho já contabilizam prejuízo na região de Promissão, a 450 km de São Paulo (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)

De acordo com IEA, a produção paulista de feijão, safra 2013/2014 , equivalente a 210 mil toneladas é 9,5% menor em comparação com o total obtido na safra anterior e 17,6% menor se comparada à produção média dos últimos cinco anos.
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Perda de 70% da colheita de milho

O cultivo do milho no estado teve retração 25,8% devido à anomalia climática. Em algumas regiões do estado, como no município de Promissão, 450 km distante da capital, as altas temperaturas prejudicaram mais de 70% da produção na cidade, com perdas estimadas em R$ 16 milhões para mais de mil agricultores, de acordo com a Secretaria de Agricultura local.

“Você consegue imaginar ficar praticamente um ano sem ver a água cair com força do céu? Eu vi isso”, afirma Luís Carlos Yogui, produtor de milho há mais de 30 anos e que vai tentar apagar 2014 da memória como um dos anos mais difíceis para se trabalhar.

A colheita paulista de soja entre 2013/2014 teve queda de 17%. Mas a disponibilidade do produto não deverá ser afetada, já que outros estados conseguirão suprir as perdas.

Na atual safra de citros, categoria que inclui a laranja, o limão e a tangerina, a maioria das frutas se apresentou "murcha", perdendo valor de mercado.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, apontaram que o Sudeste apresentou os menores índices de chuva do país e, em alguns pontos, a precipitação foi 80% menor do que a média histórica. Segundo a meteorologia, a estiagem se explica pela predominância de uma massa de ar seco sobre a região, impedindo a chegada de frentes frias que vêm do Sul - principais responsáveis pelas chuvas na região.

Hilton Silveira, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, o Cepagri, afirma que o mês de outubro deste ano foi o segundo mais seco desde 1989, perdendo apenas para 2002. Na região de Campinas, Jundiaí, Piracicaba, Limeira, Mogi das Cruzes e Ribeirão Preto, choveu aproximadamente 26 milímetros em 31 dias. Em um mês considerado normal, a média é de 120 milímetros.

De acordo com Eduardo Assad, pesquisador da área de mudanças climáticas na agricultura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, o que aconteceu em 2014 deve se agravar nos próximos anos devido à elevação da temperatura global. “É preciso trabalhar para que sistemas de manejo e plantio tolerem mais os eventos extremos”, explica.

Relatório divulgado em 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), que realizou previsões científicas sobre o impacto da mudança climática no país, prevê redução na produtividade de quase todas as culturas agrícolas existentes e perdas econômicas causadas por geadas e secas na agricultura em torno de R$ 7 bilhões anuais até 2020.

Além disso, se nada for feito para frear os efeitos das alterações do clima – como cortar as emissões de gases e reduzir o desmatamento nos principais biomas brasileiros, como a Amazônia – os cientistas estimam que até 2050 o clima influencie na perda de 10% de tudo o que for plantado no país.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Chuvas dos últimos dias reduz preço do leite mineiro


Chuva que caiu no fim de outubro ajudou a recuperar o pasto. Houve aumento na produção e redução de R$ 0,10 no preço do litro do leite.

Do Globo Rural

O pasto voltou a crescer com o retorno da chuva ao Triângulo Mineiro. Se por um lado, a mudança no clima garante redução nos gastos com o trato dos animais. Por outro, o aumento da oferta de leite já se reflete no preço pago pelo litro.

São os últimos dias de trato no cocho na propriedade do produtor de leite Valdeir José Faria, em Uberlândia, Minas Gerais. A chuva que caiu no fim de outubro ajudou a recuperar o pasto. O volume foi suficiente para causar reflexos na produção de leite. A produção subiu e o preço do litro caiu R$ 0,10. “Complica bastante. Agora que era a hora da gente recuperar, ter um lucro maior, aí abaixa o preço. Fica complicado para o produtor”, diz.

A cooperativa agropecuária de Uberlândia recebia uma média de 125 mil litros por dia em setembro. Em outubro, a quantidade passou para 140 mil. O presidente da cooperativa diz que o preço pago ao produtor no mês passado foi cerca de R$ 1,00, com redução de 10% em relação a setembro.

“O nosso poder de compra é menor em relação ao ano passado. Então, menor poder de compra e oferta maior está fazendo com que as empresas comecem a formar alguns estoques. Para desovar esses estoques, as indústrias estão tendo que abaixar os preços”, diz Cenyldes Moura Vieira, presidente da cooperativa.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea) apurou que desde setembro o preço do leite pago ao produtor vem caindo em todo o Brasil.

Cuidado com alimentos contaminados


Anvisa divulga resultado sobre efeitos dos agrotóxicos

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária apontou desta vez a abobrinha, alface, feijão, fubá de milho, tomate e uva, como os produtos mais contaminados por agrotóxicos, com limites acima do permitido. Em 2013, a mesma agência denunciou o que os produtores estavam fazendo em relação ao abacaxi, arroz ( que denunciamos aqui por conter arsênico), cenoura, laranja, maçã, morango e pepino.


O Relatório Final do Programa de Analise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) para o ano de 2012 aponta que apenas 1,9% das amostras coletadas naquele ano apresentaram quantidade de agrotóxico acima do Limite Máximo de Resíduos (LMR).  O relatório traz um total de seis alimentos monitorados: abobrinha, alface, feijão, fubá de milho, tomate e uva, cujos resultados ainda não haviam sido divulgados.

Os resultados insatisfatórios são divididos em duas categorias: quantidade de resíduo de agrotóxicos acima do Limite Máximo de Resíduo (LMR) ou presença de agrotóxico não autorizado para a cultura analisada. Ao todo, 25% das amostras apresentaram algum tipo de problema, mas a maior parte era referente ao uso de um produto não aprovado para determinada cultura, mas utilizado em outras lavouras. Isto ocorre por falta de orientação correta ao produtor rural ou pelo uso de um mesmo agrotóxico em várias culturas na mesma propriedade, por exemplo.

Os dados apontam para a necessidade de se avançar na formação dos produtores rurais, tendo como foco a saúde do consumidor e, principalmente, do próprio trabalhador que lida com estes produtos. Os trabalhadores rurais são as principais vítimas do uso indevido de agrotóxicos. Para o consumidor final os riscos estão mais relacionados ao consumo crônico, já que algumas substâncias têm efeito cumulativo no organismo e podem vir a desencadear problemas de saúde no futuro.

O PARA faz a análise de amostras de alimentos in natura ano a ano e busca orientar políticas de redução de risco que devem se adotadas em conjunto entre as autoridades e produtores da cadeia de alimentos.

Ao todo foram analisadas 1.397 amostras, coletadas em quatro momentos distintos do ano de 2012. O relatório é um referencial sobre os resíduos de agrotóxicos no país e serve de guia às políticas de redução de danos pelo uso de agrotóxicos e de estímulo à alimentação saudável.
Ações

A Anvisa coordena o programa em conjunto com as vigilâncias sanitárias dos estados e municípios participantes, que realizam os procedimentos de coleta dos alimentos nos supermercados e envio aos Laboratórios Centrais de Saúde Pública para análise. Assim, é possível verificar se os produtos comercializados possuem a qualidade exigida pela lei que autoriza o uso dos agrotóxicos, e se os LMRs estão de acordo com o estabelecido pela Agência.

Atualmente, para todas as amostras insatisfatórias oriundas de coletas visando análise fiscal, é aberto um processo administrativo autuando os responsáveis pelo alimento comercializado fora dos padrões estabelecidos pela Anvisa.
Culturas negligenciadas (Minor Crops)

No início de 2014, a Anvisa, o Ibama e o Ministério da Agricultura editaram uma instrução normativa que amplia a possibilidade de registro de produtos agrotóxicos para culturas que dispõem de poucas opções de produtos. Para isso, será feita uma extrapolação utilizando parâmetros de semelhanças entre as culturas. A partir de uma comparação entre culturas semelhantes, a Anvisa define faixas de uso destes produtos para as diferentes espécies vegetais, o que permite que a indústria peça o registro do uso do produto. A vantagem é que os limites já são dados pela Anvisa e não precisam ser estudados e definidos pelo fabricante.

Minor Crops é o nome que se dá internacionalmente às culturas agrícolas de baixo valor econômico e que por isso não atraem a atenção dos grandes produtores de agrotóxicos. A falta de produtos registrados para estas culturas pode levar os produtores a utilizarem outros produtos não autorizados para aquela cultura.

Histórico

Em 2013 a Anvisa divulgou a primeira etapa do monitoramento de 2012, no qual constavam outras sete culturas: abacaxi, arroz, cenoura, laranja, maçã, morango e pepino. Para estas culturas, o percentual de amostras insatisfatórias havia ficado em 29%. Por conta dos prazos dos laboratórios e o grande volume de amostras em análise, os resultados de 2012 foram divulgados em duas etapas distintas. Naquela primeira etapa foram avaliados 1.665 alimentos.
Conheça os resultados

Brasil inicia exportações de carne para a Arábia Saudita e China


Fim aos embargos podem gerar até U$ 1,2 bilhão já no próximo ano. A previsão é que o comércio se intensifique agora em dezembro. Para o consumo interno é uma indicação de que os preços da carne de boi deverão sofrer reajuste, devido ao aumento das exportações. No período do embargo internacional, a Friboi inundou televisões e jornais com anúncios para atrair o consumidor brasileiro. É bom ficar preparado.

O Brasil deve iniciar as exportações de carne para a China e para a Arábia Saudita em dezembro. A afirmação foi do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, em coletiva de imprensa na tarde desta terça-feira (18). De acordo com o ministro a reabertura destes mercados, garantidos em missões aos dois países realizadas na última semana, deve gerar de 700 a até 1,2 bilhão de dólares já no próximo ano.

Em 2012, no último ano antes do embargo, as exportações de carne bovina para a China alcançaram US$ 74,87 milhões e US$ 156 milhões com as vendas do produto para a Arábia Saudita.

O governo chinês já retirou oficialmente o embargo da carne e de imediato 18 plantas frigoríficas estão habilitadas a exportar, sendo oito de carne de aves; uma de carne suína e nove estabelecimentos de carne bovina. No caso da Arábia Saudita, seguindo a burocracia daquele país, ainda será realizada inspeção por amostragem em alguns estabelecimentos brasileiros, seguida de assinatura de um decreto do Rei Abdulla para que sejam iniciadas às negociações comerciais com o setor privado do Brasil.

Neri Geller frisou que o sucesso das missões aos dois países não se resumem aos resultados dessas negociações. Segundo ele, a reabertura do mercado saudita é estratégica também pela possibilidade de abertura imediata de outros mercados do Golfo Pérsico. Disse ainda que o potencial de crescimento se traduz em várias outras vantagens para a bovinocultura nacional como a geração de empregos, a industrialização do setor e a incorporação de tecnologia. “Isso gera superávit na balança comercial, e movimenta a economia nacional”, completou.

Laranjas competem com tomate no Noroeste fluminense



Considerado um dos municípios mais pobres do estado, São José de Ubá tem incentivos do governo do Rio de Janeiro para produzir laranjas. O tomate era a principal renda da região, considerada o segundo maior produtor estadual.


Tradicional no cultivo de tomate e segundo maior produtor estadual, São José de Ubá, no Noroeste fluminense, encontrou na produção de citrus uma alternativa para fortalecer a economia rural do município. O projeto conta com incentivo do Frutificar, programa da secretaria estadual de Agricultura para da fruticultura irrigada no estado.

O produtor Carlos Roberto Coelho Marinho, um dos 15 beneficiados com crédito e assistência técnica para o cultivo de laranja se diz satisfeito com os resultados de sua lavoura. Em seu segundo ano de produção já colhe 1200 caixas da fruta.

   


" Organizamos até uma associação de produtores locais para a comprar os equipamentos necessários para o tratamento pós-colheita., Os frutos são classificados, limpos e encerados para atendimento à mercados mais exigentes", revelou.

A colheita da região está sendo absorvida pelo comércio local e dos municípios vizinhos de Itaperuna, Santo Antônio de Pádua e Miracema, principalmente. Também é comercializada através dos programas de aquisição de alimentos do governo federal. Estes canais de venda absorvem toda a produção local, com preço médio de R$20,00 a caixa de 25kg, podendo variar conforme as condições e locais de venda.

Outro aspecto positivo do cultivo da laranja está em seu consórcio com as de quiabo, tomate ou até mesmo, com a pecuária de leite, utilizando-se de cercas elétricas, como o faz seu Carlos Roberto.

"Os bons resultados tem atraído novos produtores da região interessados no cultivo da fruta", destacou o produtor.

Produção

Implantado em novembro de 2010, os projetos utilizam mudas das variedades Folha Murcha, Valência e Natal. De acordo com a gerente do Frutificar - Núcleo Noroeste, a engenheira agrônoma Joana Nascimento Siqueira, essas espécies são de produção tardia, para que o seu período de colheita não gere conflito com o das lavouras tradicionais de tomate de São José de Ubá.

"Estas variedades geram frutos adequados tanto para o consumo in natura quanto para a produção de suco natural, pelo sabor adocicado e cor intensa", acrescentou.

Este ano, espera-se colher nos 15 projetos de citrus, em São José de Ubá, numa área de 30 hectares, financiados pelo Programa Frutificar, 13 mil caixas de laranja (25Kg cada). A expectativa é de geração de receita em torno de R$ 260 mil com a atividade. Para a safra de 2015, estima-se mais de mil caixas por hectare, ou seja, 30 mil caixas.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Seca: questão da água exige união de todos


Conscientizar, reflorestar e economizar para tentar reverter o processo doloroso da estiagem que reflete no bem estar e nos preços dos alimentos. Vários municípios já entraram em situação de emergência por conta da seca no Brasil. O CeasaCompras.com.br reproduz matéria publicada neste domingo (16/11), no portal do Jornal do Brasil.


Desde que o período brasileiro de chuvas, de outubro a março, foi caracterizado por uma estiagem forte e atípica entre 2013 e 2014, a associação do estado de São Paulo com um cenário de crise hídrica começou a ser cada vez mais frequente. E não é por menos: desde maio deste ano, São Paulo utiliza o volume morto – reserva técnica de água que precisa ser puxada por bombas, abaixo do volume útil – do sistema Cantareira, maior dos sistemas administrados pela Sabesp, utilizado para abastecer 8,1 milhões de clientes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Porém, a situação é mais grave e menos localizada. De acordo com um levantamento baseado nos decretos reconhecidos pela Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), até o começo do mês mais de 1,2 mil dos cerca de 5,5 mil municípios brasileiros já decretaram situação de emergência por conta da situação de seca.

O Nordeste concentra mais de 70% dos decretos de situação de emergência, mas a situação de seca tem causado fortes problemas também no Sudeste. Em Minas Gerais, já são 171 municípios em situação de emergência devido à estiagem. O estado que mais está sofrendo com a seca é o Piauí, com mais de 200 municípios em situação de emergência.

A última vez que o sistema Cantareira chegou a 100% de sua capacidade foi há 11 anos, em 1999, segundo dados da Sabesp. Nesta semana, com as fortes chuvas na região dos reservatórios, o nível do sistema se manteve estável em 10,8% da capacidade. No dia 22 de outubro, o nível era de 3,2%. Outros sistemas que abastecem São Paulo também sofreram com a estiagem. No Alto Tietê, que também sofre com a grave estiagem, o índice recuou de 7,6% para 7,5%. No Guarapiranga, a queda foi de 35,3% para 35,1%. No Alto Cotia, o nível passou de 29,7% para 29,6% e, no Rio Claro teve queda de 36,2% para 36%. O sistema Rio Grande, se manteve estável em 65,9%.
Chuvas interromperam queda na sistema Cantareira, mas quadro ainda é críticoChuvas interromperam queda na sistema Cantareira, mas quadro ainda é crítico

Várias medidas já foram avaliadas pelo governo de São Paulo para tentar evitar que a população do estado ficasse sem água. Em uma dessas medidas, o governador paulista Geraldo Alckmin declarou o desejo de buscar água no Paraíba do Sul, com um projeto de R$ 500 milhões que interligaria as represas Jaguari, da bacia do rio Paraíba do Sul, e Atibainha, no sistema Cantareira. O problema da proposta está justamente no fato de o Paraíba do Sul ser a principal fonte de abastecimento do Rio de Janeiro, que também enfrenta problemas de abastecimento em alguns pontos. O Paraíba do Sul é responsável por abastecer cerca de 9,5 milhões de pessoas no Rio.

No Rio, inclusive, o agravamento da questão hídrica vem castigando sobretudo a região do Norte Fluminense, local onde o Rio Paraíba do Sul deságua no mar. Na última quarta-feira (12), o município de  São João da Barra decretou situação de emergência, visto que o rio se encontra muito abaixo dos níveis considerados normais – causando salinização da água potável devido ao avanço do mar. O nível mínimo do rio deveria ser 2,80 metros, mas no momento não atinge nem 2,20m. São Fidélis foi o primeiro município do Rio a decretar emergência devido à seca e outros locais, como São Francisco do Itabapoana também passam por situações críticas.

“Floresta e água possuem uma relação muito íntima”

Com base em dados levantados pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Fundação S.O.S. Mata Atlântica acredita que a crise de água no sistema Cantareira é apenas a ponta de um iceberg que deverá atingir Rio e Minas, além de São Paulo, caso não sejam feitas mudanças na gestão dos recursos hídricos. Na última segunda-feira (10), a fundação lançou um edital para seleção de áreas prioritárias para a restauração florestal da Mata Atlântica, com propostas diretamente relacionadas com a conservação e proteção dos recursos hídricos do sistema Cantareira. De acordo com Rafael Fernandes, coordenador de restauração florestal da fundação, projetos de recuperação de florestas em área de manancial são fundamentais para reverter situações de crise hídrica. “O reflorestamento é uma das pontas, é preciso que haja também economia de água, uma consciência do uso mais racional dela. Floresta e água têm uma relação muito íntima e esse projeto seleciona um número de municípios que de fato influenciam no sistema Cantareira”, explica.
Aumento da urbanização agravou os problemas hídricosAumento da urbanização agravou os problemas hídricos

Os projetos do edital irão beneficiar até 12 municípios de São Paulo e Minas Gerais. A ideia é conseguir recuperar até 400 hectares de mata, conservando, portanto, 4 milhões de litros de água por ano na área de abrangência da Cantareira. O conjunto de bacias convive há 30 anos0 com quase 80% de desmatamento de sua cobertura florestal nativa e possuindo atualmente apenas 48,8 mil hectares de remanescentes, ou 21,5% de sua área de Mata Atlântica original. Através do programa Clickarvore, que apoia iniciativas e projetos de restauração florestal, até R$ 2 milhões serão investidos em propostas enviadas até o dia 15 de janeiro por pessoas físicas ou jurídicas, associações, OSCIPs ou ONGs ambientalistas ou por proprietários de terras.  Até 1 milhão de mudas de espécies florestais nativas da Mata Atlântica deverão ser doadas.

Rafael Fernandes lembra que iniciativas de reflorestamento atingem ainda questões ambientais como a conectividade de fragmentos de mata espalhados e o salvamento de corredores de biodiversidade. “Tivemos uma seca muito atípica e a gente viu que faltou muito planejamento. Tratamos a maioria dos nossos rios como esgotos a céu aberto. Lançamos uma carga enorme de poluentes em rios que podiam ser fontes de abastecimento. Com todos os holofotes voltados para essa causa, é uma oportunidade de pelo menos fazer as pessoas”, acredita.

É importante ressaltar que a crise hídrica, principalmente em sua manifestação na cidade de São Paulo, não é fruto apenas de aspectos climáticos. Inúmeros outros fatores contribuíram para a atual situação. O aumento populacional cresce no Brasil em uma taxa de 0,9% ao ano – enquanto que São Paulo cresceu em uma média de 1,1% na última década. A urbanização galopante dos grandes centros também aumentou consideravelmente a poluição de rios ao mesmo tempo em que dificultou o acesso à água potável. Com crescimento urbano, aumenta ainda o desmatamento, a impermeabilização do solo e a sobrecarga do sistema de abastecimento e coleta – e todos esses fatores influem no quadro hídrico.

Aliança pela água

A busca por soluções que resolvam a crise hídrica a longo e curto prazo acaba sendo acelerada em situações complicadas como a atual. No fim do último mês, foi lançada na capital paulista, uma associação formada por mais de 20 organizações não governamentais que trabalham na defesa do meio ambiente. O objetivo do projeto chamado Aliança pela Água é trazer sugestões que ajudem a solucionar a falta de água em São Paulo. A iniciativa teve início em um mapeamento feito junto a 281 especialistas, que enumeram propostas e chegaram a 20 ações principais, de curto e longo prazo. O levantamento reuniu 368 organizações, contextualizando cerca de 60 municípios atingidos pela crise.

Em relação às iniciativas de curto prazo, a Aliança pela Água sugere a instalação de um comitê de gestão de crise e de salas de situação de crise, pelo governo estadual, com ampla participação das prefeituras e da sociedade. A transparência na gestão, ampliação da divulgação de informações públicas, a promoção de campanhas que garantam acesso da população aos horários e dias com risco de falta de água também foram medidas consideradas importantes.
'Em vez de usar e descartar a água, é preciso reutilizar', diz especialista'Em vez de usar e descartar a água, é preciso reutilizar', diz especialista

O especialista em água Samuel Barreto, coordenador de ações da organização internacional The Nature Conservancy (TNC) com água e responsável pelo Movimento Água para São Paulo, acredita que a Aliança pela Água significa a existência de um processo de co-responsabilidade e participação de uma sociedade que está realmente preocupada com a situação hídrica. “Essa aliança tem essa prerrogativa de gerar uma sinergia e uma pressão social sobre decisões que devem ser tomadas a curto e médio prazo. Essa coalizão de mais de 20 organizações da sociedade civil vêm contribuir para uma plataforma de segurança hídrica, incentivando ações existentes e fazendo com que novas medidas sejam lançadas sem esperar só ações do governo”, explica.

Samuel acredita que é preciso voltar as atenções para medidas como a recuperação dos mananciais. Mais de 80% da cobertura verde foi perdida com o tempo e isso, segundo o especialista, tem impacto direto tanto na qualidade quanto na quantidade da água que chegam às torneiras. “É preciso rever o modelo atual, recuperar áreas de mananciais, aplicar mecanismos melhores de gestão de oferta de forma a reduzir as perdas de forma mais robusta. A média brasileira é que se perda 40% de tudo o que produzimos. Em vez de usar e descartar a água, é preciso reutilizar. A gente tem em média 60 metros cúbicos por segundo de esgoto sendo gerados e essa água poderia ser reaproveitada para diversas finalidades”, indica.

A especialista em gestão de recursos hídricos, sustentabilidade e meio ambiente Marussia Whately, do Instituto socioambiental (Isa), que assim como o TNC também integra o grupo de entidades da Aliança Pela Água, explica ainda que hoje são três as principais fontes de degradação da água: os esgotos urbanos, o desmatamento em várias áreas e o uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes. “Esses três fatores trazem alto impacto de degradação dos recursos hídricos e não vêm sendo tratados de uma forma integrada. Uma parte do território passa por uma estiagem severa e a gente não tem visto respostas à altura: apesar da existência de menos chuva não foram tomadas medidas para controlar a água retida nos mananciais. Já era algo anunciado, a Agência Nacional de Águas já apontava que em 2015 mais da metade das cidades brasileiras poderiam ter problemas de abastecimento por conta de infraestrutura”, lembra.

Marussia Whately diz ainda que, nesse momento, é necessário pensar em ações emergenciais para garantir o acesso à água visto que, segundo a especialista, as perspectivas de chuva não estão sendo animadoras. “De forma imediata, não apenas em São Paulo, é preciso garantir transparência para lidar com a crise. É preciso criar comitês de gestão de crise envolvendo o governo, a sociedade, o segmento agrícola e o industrial. É preciso trabalhar de forma integrada e fornecer informações para as pessoas acerca da real dimensão da situação. A Cadesp vem fazendo há seis meses uma campanha de bônus na conta de água para quem economizar e mesmo assim 25% dos contribuintes aumentaram o consumo. É preciso outra forma de comunicar e de chegar a esses consumidores”, afirma.

Na busca por água doce, muitos países esbarraram na técnica de dessalinização. No Brasil, o sistema já é usado em nove estados, desde o sertão do Ceará até Fernando de Noronha, que ainda depende fundamentalmente da chuva para o abastecimento visto que 40% da água consumida na ilha vêm de açude e de poços. Marussia acredita que, em momentos de crise, soluções que envolvem investimentos caríssimos começam a ser apresentadas. “Dessalinização, fora alguns lugares, é uma medida muito extrema quando se olha para o potencial hídrico que o Brasil tem. O que precisamos aprender é a cuidar melhor da água e recuperar nossas florestas, antes de começarmos a avançar em questões dessa escala”, acredita.

Samuel Barreto também acredita que o contexto do Brasil pede outro tipo de ações prioritárias. Para o especialista, é fundamental sempre considerar novas tecnologias, mas que ações como a dessalinização podem nem ser viáveis em determinadas situações. “Em São Paulo não é viável, por conta da questão do nível do mar, por exemplo. Talvez seja algo que poderia ser feito no Rio, mas, mesmo sendo viável, muita coisa pode ser feita antes. Seja resolver o problema do uso ineficiente, resolver o desgaste dos mananciais. Temos muita lição de casa para fazer antes disso”, conta.

Altas temperaturas e pouca chuva prejudicam colheita da laranja


Na interior de São Paulo, os agricultores estimam queda na produção. Fruto não vingou e a colheita tardia está prejudicada. Estado paulista responde por mais de 70% da safra nacional de laranja.

Quem foi na feira neste domingo (16/11). no Rio, deve ter se assustado com os preços da laranja-pêra, por exemplo, que é originária de São Paulo e estava sendo vendida entre R$ 5 e R$ 6, a dúzia. Mas, na hora da "xepa", já era possível comprar a fruta por R$ 3, pouco depois do meio dia. Mas, é bom ressaltar que os feirantes estavam abusando em relação aos preços da laranja, nas primeiras horas, já que era possível comprar a caixa, com 22 kg, a R$ 30, na Ceasa do Irajá, na Zona Norte do Rio. Valor praticado na sexta-feira (14/11).

Os preços altos são resultante, segundo produtores rurais, das temperaturas elevadas e da pouca chuva: uma combinação que prejudicou a colheita da laranja, que está sendo tardia. Os agricultores estimam queda na produção, embora esteja em plena safra.

O fruto não vingou e a colheita tardia, que acontece quando a laranja demora mais para amadurecer, foi prejudicada. Em uma fazenda de 600 hectares em Descalvado, região central de São Paulo, Roberto Jank pretendia produzir 900 mil caixas de laranja, mas nem a irrigação foi suficiente. Ele vai colher 10% a menos e para encontrar o motivo é só olhar para o céu: sol forte e o longo período de estiagem. “Não choveu quase nada em 10 meses”, diz.

A chuva apareceu em outra fazenda em Pirassununga, foram 130 milímetros em apenas dois dias, mas o problema é que veio tarde. Faltou água durante a florada e um pé que era para produzir três caixas, deu apenas duas.

Na fazenda de 276 hectares, José Walter vai colher 3 mil caixas a menos. O prejuízo com a laranja este ano ultrapassa R$ 30 mil, mas mesmo assim, o produtor não desanima. A esperança está nas flores e nos pequenos frutos que vem pela frente porque se a chuva cair, ele acha que vai ter mais uma florada em janeiro e pode colher pelo menos uma caixa por pé.

Outro problema que está sendo enfrentado pelos produtores rurais de laranja é a praga que deforma os frutos. Se você notar bem nos "sacolões" do Rio, a fruta está pequena e cheia de pitas.