segunda-feira, 2 de maio de 2016

Vergonha na Ceasa gaúcha



Duasa semanas depois de representantes de boa parte das Ceasas do país terem se reunido em Minas para discutir os novos caminhos para as centrais de abastecimento, acontece esse descaso com a segurança em uma delas. Visita de turma à Ceasa no RS acaba em agressão após assédio a alunas da PUCRS. Universidade diz  em nota que presta assistência aos estudantes envolvidos. Universitários fizeram visita ao local em atividade acadêmica na quarta (27).

Caso caiu nas redes sociais


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Uma visita de estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) à sede da Central de Abastecimento do estado (Ceasa), em Porto Alegre, terminou em confusão e com um aluno agredido após alunas sofrerem assédio de trabalhadores do local, que reúne produtores e atacadistas na distribuição de hortigranjeiros. O episódio ocorreu na última quarta-feira (27).

Depois, relatos começaram a se espalhar pelas redes sociais. Um deles foi compartilhado mais de 1,5 mil vezes de uma página que publica posts anônimos de alunos da universidade na internet. O texto diz que uma turma do curso de Nutrição foi acompanhada de uma professora até a Ceasa e, dentro dos pavilhões, as alunas sofreram "vários abusos sexuais verbais por parte dos funcionários da Ceasa."

Uma das pessoas que compartilhou a publicação é aluna da PUCRS, e estava na turma de cerca de 30 universitários que visitou a Ceasa na quarta-feira. Larissa Quintana, 24 anos, estudante do 4º semestre, diz ao G1 que tudo o que foi relatado no post aconteceu.

"Na visita externa pelas bancas, já sentimos olhares. Até aí tudo bem... Mas quando entramos no galpão da Ceasa, na parte de maior exposição, tinha em torno de 100 homens, para mais. Foi mais constrangimento. Eu fiquei surpresa, os homens gritavam tanto que eu demorei para entender que era conosco", lembra. Ela acrescenta que na turma eram três homens, e o restante era de mulheres.

Em meio aos assovios e frases constrangedoras que as alunas ouviam, segundo Larissa, um dos comentários que mais chamou atenção foi feito por uma mulher. "Vamos vender essas gurias por 1,50, ela disse", relata a estudante.

O relato compartilhado também diz que um estudante resolveu defender as colegas que se sentiam ofendidas e acabou agredido. Larissa confirma. "Eu estava distante, mas um dos homens do galpão abordou uma das colegas, foi até ela assediar verbarlmente, e um dos colegas não se aguentou. Foi até esse cara e perguntou 'qual o teu problema?' Deu um empurrão e, nisso, os caras da Ceasa o agrediram, um segurou e outro soqueou", conta.

"Ele ficou com olho roxo e sangrou, não chegou a levar pontos", diz Larissa, sobre o colega agredido. A estudante também relata que algumas colegas choravam. "Tem uma colega que não consegue nem dormir mais, está precisando de tratamento psicológico", afirma.

Depois da confusão, um grupo de seguranças acompanhou os estudantes até o posto médico da Ceasa e ao posto policial. Uma ocorrência foi registrada, e um termo circunstanciado foi assinado. Larissa conta que os trabalhadores que estavam na Ceasa alegaram legítima defesa.

"Seis seguranças nos acompanharam para retornar, mas fizeram a gente passar por dentro do galpão de novo, e os assovios seguiram. Eles apontaram as armas para o pessoal. Estavam despreparados para aquela situação", avalia Larissa.

A estudante ainda diz que, antes do dia do passeio, os alunos receberam algumas recomendações, como ir com roupas largas à Ceasa. O aviso gerou desconforto, segundo ela, mas mesmo assim a maioria da turma optou por ir, já que é uma atividade que está no currículo.

Universidade lamenta fato e diz prestar assistência
Na sexta-feira (29), a PUCRS emitiu uma nota lamentando o fato (leia na íntegra ao final da matéria). No texto, a universidade diz que "está prestando assistência e orientação ao estudante, além de assistência psicológica a ele e às colegas que foram assediadas verbalmente na mesma ocasião."

Segundo a nota, o aluno agredido e o pai dele foram recebidos pela universidade e estão sendo acompanhados pela direção e pela coordenação do curso da faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia.

O aluno agredido prestou depoimento no posto da 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, que fica dentro da própria Ceasa. O G1 entrou em contato com a delegacia, mas somente o delegado responsável, Herbert Ferreira, pode falar sobre o caso. Ele ainda não atendeu as ligações da reportagem.

Administração da Ceasa toma providências
O G1 entrou com contato com o diretor-técnico operacional da Ceasa, Ailton Machado, que disse que medidas já foram tomadas após o fato. Ele lamenta o que ocorreu, e afirma que nunca foi registrado um caso de agressão dentro do local, que recebe estudantes há 30 anos.

De acordo com ele, o técnico que acompanhava a turma na visita relatou que percebeu uma confusão logo atrás - ele caminhava um pouco mais à frente do grupo -, e foi verificar o que estava ocorrendo. Neste momento, percebeu que um carregador de um atacadista da Ceasa havia dado um soco em um estudante.

"Quarta é um dia com pouco movimento, pouco público. Tudo corria naturalmente, até que me parece alguém mexeu com uma das moças, o aluno não gostou, e foi tirar satisfações com esse carregador. E ele foi gredido com um soco. Imediatamente o técnico que estava com a turma correu e os separou. Fui avisado, e pedi para o estudante procurar o posto médico, e depois o da delegacia, que fica ao lado. Ele mesmo quis registrar ocorrência", diz Machado.

Segundo o diretor-técnico, o ambiente da Ceasa é masculino, apesar de muitas mulheres trabalharem no local. Ele compara o espaço a um "estádio de futebol". "As pessoas podem gritar sem nem saber o que está acontecendo, não tenho como saber quantos falaram algum tipo de gracinha. Mas no momento em que alguém grita, alguém vai gritar junto, culturalmente é assim lá", explica.

Apesar disso, Machado afirma que, pelo menos há cerca de três décadas, é a primeira vez que um fato mais grave acontece nos pavilhões. "Nunca registramos nada dessa natureza."

Após o episódio, a administração da Ceasa resolveu tomar algumas medidas para evitar que outras cenas parecidas ocorram. Conforme o diretor-técnico, a credencial de acesso do carregador envolvido na confusão foi suspensa. E assim será com qualquer outra pessoa que se envolver em situações semelhantes.

"Além da questão da vigilância, terça-feira vamos enviar um informativo na Ceasa. Não vamos aceitar nenhum tipo de agressão a essas pessoas, qualquer pessoa", garante.

Machado acrescenta que, na segunda-feira (2), uma reunião está marcada como reitor da universidade para tratar do assunto.

Leia a nota da PUCRS na íntegra:
A PUCRS lamenta o fato ocorrido na última quarta-feira, 27 de abril, quando um aluno do curso de Nutrição foi agredido fisicamente em uma visita acadêmica à Ceasa (Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul).

A Universidade está prestando assistência e orientação ao estudante, além de assistência psicológica a ele e às colegas que foram assediadas verbalmente na mesma ocasião. O aluno e seu pai também foram recebidos pela Universidade e estão sendo acompanhados pela direção e pela coordenação do curso da Faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia.

A visita à Ceasa é uma atividade acadêmica realizada regularmente por alunos do curso, com o objetivo de garantir uma formação técnico-científica e humana, atendendo às necessidades sociais da profissão de nutricionista. A Universidade reitera, ainda, que repudia qualquer manifestação de violência e que acompanhará o fato junto à administração da Ceasa.

Fonte G1.

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